segunda-feira, 25 de junho de 2007

Flor pro beija-flor ( V )




Bom ver que agora não só não negas seu amor, como o jura eterno. Bom ver que a necessidade do desejo não te fez esquecer de amar seu beijo e continuar seu vôo tão belo. Bom ver irmão beija-flor que também não admite se fantasiar de pecador ou de coitado, vítima do pecado. E ver que carrega suas asas com todo mel que possas carregar, sem que precise para tanto, por no seu bico uma gota se quer de enganar. Eu, do meu lado, se dei essa impressão me desculpo, pois não nego e não negarei minha condição de beija-flor. Sei o quanto de amor colhi de cada vôo que vivi e que enfeitaram minhas asas com cores e desabores de tanta flor beijar. Sei do medo da gaiola e da falta dela Assim como, do medo, de tão alto voar.

E como crucificar ou santificar quem se entrega ao amor?
Só achei que você confundia o que sentia
e se esforçava pra se enfeitar com a dor.
Sem precisão, pois quem ama ou amou
sabe do gosto amargo desse sabor.

E também achei que esquecia que na maioria das relações
entre beijas e flores existem sabores enganadores
dos muitos que há muito tempo
já não sabem como beijar ou serem beijado
sem deixarem de lado a ilusão de se mascarar.

Mas, vejo que não temos pendengas,
só ruídos capengas que já clareiam em nossa prosa poesia
de beija-flores que amam flores de noite
assim como voam para beija-las de dia.

Talvez, o que queria eu te dizer irmãozinho voador
é que sem deixar
e por sermos o que somos
não podemos nos esquecer
que também somos e seremos flor.

E assim sendo, o beija-flor
tanto beija a flor e colhe seu mel
quanto é beijado e colhido por ela.
Tanto ele voa no céu como se espalha pela terra.
Tudo que fazemos não fazemos sozinhos
Fazemos em relações aonde construímos
e aonde constroem em nossas asas
pequenos e cuidadosos ninhos.
Por isso a necessidade de ressaltar o carinho
nessa espiralada peregrinação prazerosa
pois voamos por um mundo diferente
aonde possamos todos, cada um com sua cor
sermos o passarinho que pudermos ser
sem esquecer de sermos também linda flor.

Rafa Alencar

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