quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Leve feito pluma
avizinhava-se 
o pássaro de aço
pouco a pouco
gota a gota
despejava
sentimentos,
movimentos,

olhares e beijos, 
quando dei por mim
o pote de minha razão
transbordava desejo

(Massari)



terça-feira, 28 de novembro de 2017

Totalidade

O amor não é terreno para agrimensuras
O amor não se fragmenta, é totalidade

Não se divide em campos, departamentos,
Não se divide em territórios, áreas e cidades

Por isso, amo-a quando dorme
Amo-a quando acordada

Amo-a quando ri, amo-a quando chora
Amo-a em sua chegada, e quando vai embora

Amo-a quando romântica
Amo-a quando materialista

Amo-a quando faz longos planos
Amo-a quando destrói expectativas

Amo-a em seu ateísmo,
...E em, sua descrença metafísica

Amo-a quando pragueja contra o mundo,
desesperançosa rende-se e chora, refazendo-se,
na madrugada, para retomar a força na próxima aurora

Amo-a quando cansada, tranca-nos em casa,
deixando todos os problemas do lado de fora,
e intensa e cuidadosamente me namora

Amo-a quando faz falta,
Porque amo sua presença

Aprendi a amar a saudade,
Causada por sua ausência

Amo-a quando me busca, amo-a quando me nega
Amo-a quando foge, amo-a quando se entrega

Amo-a em mau humor, amo-a em carícias
Nossas dores, são o avesso de nossas delícias

Amo seus sonhos e no avesso seus pesadelos
Amo-a na dialética da razão, amo-a por inteiro

Amo-a em sua modéstia, amo-a em sua vaidade
Amo-a em sua magnitude, e em sua  simplicidade

Pois amar é matéria inteira, amar é totalidade

(Fábio Francisco)




segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Viesse um vento
Eu poderia alçar vela.
Faltasse vela
Faria uma de pano e pau
(Bertlt Bracht)

Por fim:

O fim é apenas um momento do movimento
É a fruta que de tão madura ultrapassou o ponto, e hoje jaz caída, quando o solo a envolver, converter-se-á em nova vida
Pra sermos pertinentes conspiradores e resitentes é preciso saber ser germe, fruta e semente
(Massari)

O fim

Temido por todos
terror dos amantes
terror dos ditadores
terror dos religiosos 
e mesmo dos militantes

Ele chega
ele é cabal
ele é síntese
expressão de bem e mal

De nada adiantam 
vossas preces
torcidas e orações 
ele é fatal

Ele é o avesso da vida
ele chega para todos
portadores de azar e sorte
é o anuncio do novo
e o arauto da morte
é o marco, 
a cisão, 
o corte

(Massari)



quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Minha amada
(para Jazz)

O olhar que se move 
na cadência dos versos,
os traços, 
e curvas 
e cores, 
textura...
feitos para a pintura 
e para fotografia

Como vinda de um encontro 
entre Jorge e Machado
algo de Capitu e Gabriela
Olhos de ressaca, cravo e canela

(Massari)


terça-feira, 24 de outubro de 2017

Sobre o amor e propriedade

Tenho-te a meu lado por não te ter, comigo ombro a ombro caminhas, apenas por não ser minha entrega-me teu amor tu me tens a teu lado por não ser teu por isso caminhamos par e passo, lado á lado apenas por não ser teu entrego-te o amor que tenho eu fossemos um do outro nem tu me amavas nem eu te amaria seriamos propriedade um do outro o amor virava posse o sexo burocracia como cães amando aos donos em sua perpetua prisão encoleirado e adestrado o amor morria a ilusão de segurança, o medo da perda da propriedade, mata (com o tempo) os melhores sentimentos, que ironia da humana animalidade resta a sexualidade livre e vadia em vão tenta o liberal domestica-nos os sentimentos a tudo põe preço, posse, propriedade... burocracia amo-te por não ser teu ama-me por não ser minha emanados enfrentamos a burguesa monogamia (Massari) (Para Jazz, a mulher que amo, a quem por não pertencer, nutro tamanho sentimento, que fossemos posse não poderia)


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Ciclos

Quarenta e um ciclos de rotação da terra em torno do sol Assisti quarenta e um meninos brincando no quintal do tempo Um por vez, mas são um todo e o todo é sempre maior que suas partes Meninos barulhentos, baderneiros, cada um ao seu modo e tempo, fizeram arte Uma vez por ano reúnem-se para receber um novo membro, tomar uma cachaça, refazer (e desfazer) planos e iniciar uma nova rodada. Fábio Francisco

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Solidão

Não aquela de abandono
mas de isolamento
aquela de ficar só
sem lamentos
de contemplar o mar
refletir o tempo
sentir-se envolvida
pelo ar
saborear
os gostosos
afagos do vento
(Massari)


O Universo não é uma ideia minha.

O Universo não é uma ideia minha. 
A minha ideia do Universo é que é uma ideia minha.
A noite não anoitece por meus olhos, 
Através de meus olhos a minha ideia de noite  é que anoitece 
Fora de eu existir,  pensar e de existir qualquer pensamento 
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso

(Alberto Caeiro, homônimo de Fernando Pessoa)


Salto

O salto
no vazio
da vida
esse
oceano 
de poética
dores
alegrias
e feridas

(Massari)



Tuas curvas

A cada curva 
de teu corpo
um versouma nova canção
a cada dia
adoro ler
em tuas linhas
nelas residem
a mais bela
e intensa poesia

(Fábio Francisco)




PB

A vida estava
 em preto e branco
me chega ela
ousada, trazia
todas as cores
da paixão
em sua quente
aquarela

(Massari)




terça-feira, 20 de junho de 2017

Desejo

O desejo febril, que ali em chamas se via
aquela noite um torpor a consumia
mas era diferente, permeado de calmaria
não era como aqueles costumeiros, de cada dia
ansiava por realizar algo novo, que já conhecia
que embora impossível agora, fatalmente se realizaria
um encanto secreto, uma identidade lasciva
o intenso sentimento a lembrava que ainda vivia
era consumida, pela doce angustia da expectativa

(F. Massari)




segunda-feira, 12 de junho de 2017

Ingredientes e temperos da vida

Na base evite massa
em seu lugar
coloque classe

Duas xícaras
de
sabedoria
Um punhado
da mais ácida
ousadia
Meia garrafa
(da mais barata)
alegria
Dispense
realçar sabor com
qualquer pitada de ilusão
Derrame um pote
inteiro
de paixão
Consuma quente
sem receios
ou moderação
Ideal para degustar em bando
com uma taça de vinho
e um pouco de pão
(F. Massari)


Verso de amor secreto

Uma pessoa enamorada,
alguém que amamos
e não podemos citar
Porque o mundo acharia
estranho (estranho mundo)
e ela teria muito o que explicar
Juntos destruiremos esse mundo
em seu lugar faremos um outro
onde livremente (sem preconceitos e retalhações)
se possa finalmente, e de todas as formas, AMAR
ps: Ai, o verso será acompanhado de uma foto,
de pessoas que se amão, neste dia
Não vai importar a quantidade, nem o sexo,
das pessoas contidas no amor e na fotografia

A palavra-MOR

Sentimentos
brotam
do concreto

Compartir
a vida

Compartir
O pão

Compartir
o trabalho

Compartir
a luta

Compartir vida
prazer e labuta

Compartir
o pão e nossas companhias
nos faz companheiros

Compartimos a nossa
e outras paixões

Para amar, não carece
ser solteiros

Nos relacionamentos
costumamos ser metade

Assim, sem propriedade
com você sou inteiro

Não sois minha
não sou teu, verdade

Exatamente por isso
a ti me dou por inteiro

Não somos a cara metade
mas a soma de dois inteiros

me encontro em tuas curvas
reconheço-me em tua voz

Assim não posso amar “você”
pois precisaria encontrar o “eu”

Confundimos nossos corpos
e ideias, Não há mais eu, nem você
mas uma coisa intensa chamada nós

(Para minha amada Jéssica Sant Ana)

Meus agradecimentos a camaradas, amig@s, e amantes, que (compartilharam) compartilham e contribuem (contribuíram) de alguma maneira a nossa paixão, nosso amor e nossa intensa, pouco convencional e gostosa relação, não vou citar ninguém para evitar constrangimentos (rsrsrs), poderia dizer que I, L, M, V, I, N, J, F, R, C, D, B... são por nós criaturinhas amadas e enamoradas... Mas vocês sabem que nosso amor transborda nossa relação e é muito para dois, assim se espalha sobre vocês!!!



segunda-feira, 5 de junho de 2017

Senha secreta

Eu pensando como seria
se um dia
eu te deixasse
se eu enfim te largasse
e desatasse aquilo que chamam de matrimonial enlace,
laço que se rompe com profunda dor
não mais usaria
o seu nome
em senhas secretas
mensagens discretas
que eu tive de inventar
para acessar
um simples programa de computador

Henrique,
mais o mês do ano.
qual seria a senha
do próximo mês?
Fernando junho, talvez?

(Éter)


O que brota

Brota em mim
de mim 
brota de nós
em mim e em nós 
brota neste momento

Agora somos nós 
não á mais você
Não á mais eu
brota no tempo

Brota e sai pelos poros
brota e sinto em teus cabelos
o que brota vem de longe
brota e sinto no vento

Aquilo que brota
não respeita 
convenções
nem as leis
nem o tempo
nem a Deus

O que brota
é rebelde
subversivo
profano e ateu

O que brota 
e se alastra pelo vento
o que brota, é o humano
emanando o mundo você e eu

(Fábio f. Massari)


sexta-feira, 26 de maio de 2017

SEGURANÇA NACIONAL

Tento levantar a tampa,
é lógico: a tampa
que fecha a minha caixa.
Não é um caixão, isso não,
é um pacote, uma cabina,
numa palavra: uma caixa.
Vocês sabem exatamente o que quero dizer
dizendo caixa,
não banquem os bobos,
apenas falo em
uma caixa normal e corrente,
também não mais escura que a sua.
Portanto, quero sair, bato,
martelo contra a tampa
suspiro: Mais luz, respiro
com dificuldade, é lógico,
golpeio com força contra a fresta. Está bem.
Mas por motivos de segurança está fechada,
a minha caixa, ela não se abre,
a minha caixa de sapato tem uma tampa,
mas é bastante pesada essa tampa,
por motivos de segurança,
porque se trata aqui
de um recipiente, de uma arca de aliança,
de um cofre. Não consigo.
A libertação se consegue, é lógico,
apenas com forças unidas.
Mas por motivos de segurança
estou sozinho comigo na minha caixa,
na minha própria caixa.
A cada um o seu! Para escapar,
com as forças unidas, da própria caixa,
eu já deveria, é lógico,
haver escapado da própria caixa
e isso vale, é lógico,
para todos.
Portanto pressiono a tampa
com minha própria nuca. Agora!
O espaço de uma fresta! Ah! Ali fora,
grandiosa, a ampla paisagem
coberta de latas, galões,
enfim, de caixas, e atrás delas
as ondas verdes que se balançam afoitas,
lacradas por malas à prova de mar,
as nuvens numa altura inaudita
acima, e por toda parte, toda, o ar!
Deixem-me sair, grito, portanto,
afrouxando, contra toda evidência,
a língua saburrosa, coberto de suor.
Fazer o sinal-da-cruz, nem pensar!
Acenar, não dá, as mãos não estão livres.
Cerrar o punho, impossível.
Portanto, me pesa, eu chamo,
expresso meu pesar, ai de mim!,
meu próprio pesar,
enquanto com um plup abafado
a tampa se fecha de novo,
por motivos de segurança,
sobre mim.

(Hans Magnus Enzensberger, Alemanha, 1929)

(Tradução de Kurt Scharf; Armindo Trevisan)

Passado moderno

Antigamente era engraçado, vivíamos na modernidade, sabe?
O mundo era dividido em duas classes, a dos que detinham os meios necessários a produção da vida, e a dos que só possuíam força de trabalho, dai para sobreviver tínhamos de vende-la assalariadamente, para ficar vivo e eternamente fazer a mesma merda.
Dai era assim, os que tinham sorte, tinham emprego e viviam na maior pindaíba, pensando em viver melhor, enquanto, de fato, enriqueciam diariamente a outra classe com seu trabalho e sua miséria.
Já os que não tinham sorte, ficavam no percentual da humanidade que não conseguia comer, beber, morar e vestir, tipo os mais fudidos, sabe?
Nessa época distante, os que eram dominados, estavam tão sob controle que se dividiam em dois grupos, os que defendiam a ordem integralmente (direita), e os que defendiam-na parcialmente (esquerda).
Na modernidade, haviam classes sociais e todos viviam do trabalho, uns viviam do próprio trabalho e outros vivam do trabalho alheio.
E isso alienava e des-humanizava a humanidade.
E sofríamos toda sorte de segregações, opressões e preconceitos decorrentes da sociedade de classes.
Por sorte veio a pós modernidade, a sociedade da informação, o agir comunicativo, o fim das classes e da sociedade do trabalho e tudo mudou... Ahhhhhh Que lindo!!!
Como é bom olhar para trás e ver que tudo isso ficou no passado.
Viva o fim da modernidade... VIVA!!!
(Massari)


Falas do silêncio

(Sobre classes e comunicação)

Ele chegou calado,
suas mãos calejadas
disseram rudemente.
“Eu trabalho.”

Ela chegou e calada
com seu corpo suado
envolto em trapos.
Seu olhar cansado
disse:
“Eu, trabalho”.

Outro chegou
e com sua roupa elegante,
seu jeito culto.
seu agradável perfume,
vindo de muito distante
disse com sua face rosada
“Eu não.”

Não com os músculos,
porém, trabalho ainda mais,
penso, planejo
formulo, dirijo,
coordeno, organizo.

Disse em alto
e bom tom,
com sua fala mansa
e desenvolta:
“Eu falo”.

Calo,
por ter calos
falo pouco,
pois muito
trabalho.

Por não trabalhar,
fluentemente falo
ou ainda, bem falo
porque, por mim
outros tantos
muito trabalham.

Prestem sempre
muita atenção,
nas palavras do silêncio
que cercam sua vida

Mãos falam
cheiros e odores
falam, calos falam
os corpos falam
sobretudo lembre
muito falam as feridas



Fábio Francisco


terça-feira, 16 de maio de 2017

No meio do vendaval, você

Olho em torno, Fatos a consumar As contas, com seus prazos As tarefas, em atraso A teoria, Por produzir O trabalho, por vender A briga, por comprar O curso, por realizar O ensaio, por fazer As fotos, Por editar O mundo novo, por construir O flerte, por realizar Os amigos, por rever O poema, Por finalizar Os filhos, por regar O jantar, por fazer A música, por ouvir O tesão, por aplacar Todo nosso amor, por viver Em outra situação me desesperaria Mas com você ao meu lado Tudo segue leve A tormenta vira calmaria Afinal, é só a vida. Tudo pode esperar O ritmo manhoso De nossa discreta e preguiçosa alegria (Massari)


segunda-feira, 15 de maio de 2017

Estações

Minhas folhas se foram no outono
Agora começa o inverno
E sei será demasiado fria 
A minha existência
Nesta estação
Mas também sei 
Que após o frio virá 
A primavera
E vou me enfeitar 
De vida
Radiante 
Brotarão
Folhas 
Novas
Assim sei que 
Nada é em vão
Estarei plenamente refeita 
Até o próximo verão

Yolanda Vasquez


domingo, 14 de maio de 2017

A moça

Com seus beijos 
longos e suspirados
nada me cobra
busca apenas
por prazer
sem valor
sem troca
sua boca fala
o amor em
muitas línguas
passeia lenta
por meu corpo
que tudo cala
sutil me toca
intensamente
me provoca
(Walter Sampaio)




sexta-feira, 12 de maio de 2017

Para minha amada

Poemas ardentes
na madrugada
suspiros na casa surda
gemidos na noite calada
gosto é de tocar-te o ventre
recitar-te ao ouvido
versos quentes
saboroso
como tua carne
entre meus dentes

(F. Massari)

Chamas...

Tu 
me 
chamas 
E as chamas parecem já terem consumido tudo
o pouco que sobrou de nós sob efeito das chamas 
do tempo, agora parecem escombros da fortaleza doutrora 
Eu te chamo
Tu me chamas 

Não percebendo que o tempo de nós dois já passou 
chamuscado vejo as lágrimas caírem ao solo 
em meio as cinzas do que fora nossa vida outrora
Chamas 

Chamo 
Chamas
Mas em meio aos escombros e cinzas, não 
conseguimos mais nos ouvir, não há nada de errado 
a vida apenas segue seu curso, como o vento 
seu curso 
Chamas 
Chamo 
Chamas 
Tolice acreditar que algo pode resistir ao próprio
desenvolvimento
  ao fluir, a ação do tempo, 
as transformações, a seu próprio movimento
Chamas 
Chamo 
Chamas 
De tudo que tínhamos a dizer restou apenas silêncio 
meus lábios surdos seguram, as palavras não ditas
na mente atordoada, levarei a saudosa lembrança

Chamas 
Chamo 
Chamas 
De teu mais apaixonado beijo, hoje a solidão toma lugar a mesa
lembro de um tempo em que o mundo "não importava" éramos 
tu e eu consumidos por outras chamas, desejos, beijos e esperanças...
Chamas 
Chamo 
Chamas
Talvez sigamos recordando e inutilmente chamando um ao outro
talvez o chamado não resista as primeiras esquinas,
sejamos ouvidos por outros aflitos, meninos, meninas
Chamas
Chamo

Chamas
em meio as ruidosas e imprecisas estradas, que nos reserva a vida 
vejo todo o, agora passado se consumir en(em)quanto chamas
Chamas
Chamo

Chamas

(Walter Sampaio)