Tento levantar a tampa,
é lógico: a tampa
que fecha a minha caixa.
Não é um caixão, isso não,
é um pacote, uma cabina,
numa palavra: uma caixa.
que fecha a minha caixa.
Não é um caixão, isso não,
é um pacote, uma cabina,
numa palavra: uma caixa.
Vocês sabem exatamente o que quero dizer
dizendo caixa,
não banquem os bobos,
apenas falo em
uma caixa normal e corrente,
também não mais escura que a sua.
dizendo caixa,
não banquem os bobos,
apenas falo em
uma caixa normal e corrente,
também não mais escura que a sua.
Portanto, quero sair, bato,
martelo contra a tampa
suspiro: Mais luz, respiro
com dificuldade, é lógico,
golpeio com força contra a fresta. Está bem.
martelo contra a tampa
suspiro: Mais luz, respiro
com dificuldade, é lógico,
golpeio com força contra a fresta. Está bem.
Mas por motivos de segurança está fechada,
a minha caixa, ela não se abre,
a minha caixa de sapato tem uma tampa,
mas é bastante pesada essa tampa,
por motivos de segurança,
porque se trata aqui
de um recipiente, de uma arca de aliança,
de um cofre. Não consigo.
a minha caixa, ela não se abre,
a minha caixa de sapato tem uma tampa,
mas é bastante pesada essa tampa,
por motivos de segurança,
porque se trata aqui
de um recipiente, de uma arca de aliança,
de um cofre. Não consigo.
A libertação se consegue, é lógico,
apenas com forças unidas.
Mas por motivos de segurança
estou sozinho comigo na minha caixa,
na minha própria caixa.
apenas com forças unidas.
Mas por motivos de segurança
estou sozinho comigo na minha caixa,
na minha própria caixa.
A cada um o seu! Para escapar,
com as forças unidas, da própria caixa,
eu já deveria, é lógico,
haver escapado da própria caixa
e isso vale, é lógico,
para todos.
com as forças unidas, da própria caixa,
eu já deveria, é lógico,
haver escapado da própria caixa
e isso vale, é lógico,
para todos.
Portanto pressiono a tampa
com minha própria nuca. Agora!
O espaço de uma fresta! Ah! Ali fora,
grandiosa, a ampla paisagem
coberta de latas, galões,
enfim, de caixas, e atrás delas
as ondas verdes que se balançam afoitas,
lacradas por malas à prova de mar,
as nuvens numa altura inaudita
acima, e por toda parte, toda, o ar!
com minha própria nuca. Agora!
O espaço de uma fresta! Ah! Ali fora,
grandiosa, a ampla paisagem
coberta de latas, galões,
enfim, de caixas, e atrás delas
as ondas verdes que se balançam afoitas,
lacradas por malas à prova de mar,
as nuvens numa altura inaudita
acima, e por toda parte, toda, o ar!
Deixem-me sair, grito, portanto,
afrouxando, contra toda evidência,
a língua saburrosa, coberto de suor.
Fazer o sinal-da-cruz, nem pensar!
Acenar, não dá, as mãos não estão livres.
Cerrar o punho, impossível.
afrouxando, contra toda evidência,
a língua saburrosa, coberto de suor.
Fazer o sinal-da-cruz, nem pensar!
Acenar, não dá, as mãos não estão livres.
Cerrar o punho, impossível.
Portanto, me pesa, eu chamo,
expresso meu pesar, ai de mim!,
meu próprio pesar,
enquanto com um plup abafado
a tampa se fecha de novo,
por motivos de segurança,
sobre mim.
expresso meu pesar, ai de mim!,
meu próprio pesar,
enquanto com um plup abafado
a tampa se fecha de novo,
por motivos de segurança,
sobre mim.
(Hans Magnus Enzensberger, Alemanha, 1929)
(Tradução de Kurt Scharf; Armindo Trevisan)
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