terça-feira, 26 de junho de 2007

Conversa no jardim (parte X de "Duelo")

Bom ouvir outros cantos,

sentir novos cheiros
e ver novas cores
nessa conversa ao jardim.
Bom saber que amores
entre beija-flores e flores
não chegam, por mais que acabem,
nem perto do fim.
Bom que seja assim...

Agora
olhando mais uma vez o jardim
vejo um beija-flor beijando
e sendo beijado suavemente por um jasmin...
Um beija-flor ou uma beija-flor?
Um ou uma jasmin?
Fiquei perguntando... olhando pra eles
ou elas...? perguntando por mim.

Beijo gostoso, daqueles que deslizam
queimando, que fazem sua primavera
e deixam o jardim inteiro na espera
de quem olha o amor suspirando.

É... se é verdade que cada coisa tem seu lugar
como é bom ver que em cada lugar cabe tanta coisa.

Nessa vida de beija-flor
deixei o amor me fazer voar o mais alto
que minhas asas não podiam.
Não deixei, mas ele assim mesmo,
me derrubou o mais fundo
aonde minhas penas, uma a uma,
mergulhavam e tremiam.
Vôo cheio de flores
de já sabido, infinitos sabores.
Vôo com seus espinhos e suas dores.

E de tanto voar
não posso esconder, muito menos negar:
Hoje sou um beija-flor muito flor
que voa no azul do céu
e que tem raízes, ao mesmo tempo,
cavando a terra para fazer o mel.
Hoje sou um beija-flor que faz amor
como beija e como flor
com aquilo que voou e aprendeu a gostar.
Hoje não preciso colocar meu bico em riste
pois meu alpiste é o amor amar.

E sendo assim, se uma rosa não goza
ao me beijar, eu mesmo gozando deixo
outro tanto de gozar, pois sou um tanto quanto
rosa, que recatada ou toda prosa, gosta muito
de se espalhar.

Uma coisa é uma coisa
E outra coisa pode ser outra e ou a mesma também.
Isso porque nos fazemos em bicos e em pétalas
de outros e outras alguéns.
Ao nos distanciarmos, não somos mais realmente iguais
Flores bicadas, de penas aladas, de raízes avoadas
ficam na terra.
Beija-flores florais, de espinhos mortais com cheiros
de serras cruzam o vento.
Alegria e tormento de nos fazermos em relações,
beija-flores com seiva bruta e elaborada
e flores com corações.

Então, meu amado e amante irmão alado
não posso falar de beija-flores e de flores separados assim.
Pois essa relação não começa e nem termina no beijo,
essa relação bem ou mal vivida decreta a essa dicotomia um fim.
Beija-flor é também flor
e a flor olha e diz: eu também sou um tanto assim.


Rafa Alencar

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