segunda-feira, 25 de junho de 2007

Conto Anti-biográfico


Era madrugada, e não era fria,
em verdade uma dessas
em que o sangue ferve,
misturado à conhaque e cerveja gelada,
típica madrugada de noite de balada

Chego no bar, e seu olhar, entre tantos
é o primeiro que vejo...

Ali, numa mesa no canto
sua coxa desnuda pelo racho do vestido,
a carnuda boca vermelha, e seu lindo rosto
estampado de sorriso
quase escondido pelos cabelos longos
e esvoaçados através dos quais
pode-se entrever o seu olhar de tesão
(olhar indecente que lascivo denuncia paixão latente)

Fujo dela e de mim mesmo
papeio, danço, converso e brinco...
juro não me aproximar,
mas ela sempre atraia o meu olhar
queria não olhar para ela,
mas meu olhar me traia...
sempre que percebia ele já estava lá,
em suas curvas, peitos, coxa, bunda, boca, nuca...
reluto
Meu olhar ainda uma vez me trai
e parecia que seu corpo todo dizia:-VEM CÁ
Era uma dessas noites vazias,
e minutos depois me aproximo,
exatamente como havia jurado que jamais (novamente) o faria...
e mais uma vez pra casa-do-caralho vão as minhas certezas
coerência e firmeza
Algumas dúzias de palavras,
mais frias que as cervejas geladas em nossa mesa pousadas
(que ela no seu orgulho de fêmea moderna fez questão de pagar)
e meia hora depois um quarto barato
sem nada excepcional,
sem nenhuma beleza
dos motéis no caminho era sempre o primeiro
Novamente a prova nosso tesão e destreza
Sua fina lingerie, rasgada com força virara trapos
Chamas e delírio a nos envolver por inteiro
eu lhe chamava por puta
lhe puxava os cabelos
lhe dava na cara
e sem frete lhe fodia
segurando firme as ancas
e enfiando-lhe a vara
ela urrava o mais alto que podia e dizia
–NÃO PARA
Olhava-me desafiante e dizia: SOCA INCESSANTE,
FODE ESSA VADIA...

E em espasmos sorridentes olhou para mim,
mais uma vez havia gozado a safada,
eu, por meu turno, não me fiz de rogado
e aquela noite gozei meu bocado

Não sei se era amor aquelas trepadas de euforia
era louco, caudaloso, coisa insana, doentia

Aquilo já era vício e decerto já a muito estávamos viciados
superados os medíocres conceitos cristãos
já não me sentia culpado
entretanto até hoje me acomete uma dúvida,
era ela a puta ou era eu o tarado???

Fábio FSM

2 comentários:

Cacá disse...

Simplesmente maravilhoso...... excitante, selvagem..... fantástico......

bjão

Thais disse...

"por esta solidão, que não consente
nem do sol, nem da lua a claridade,
ralado o peito já pela saudade
dou mil gemidos à marília ausente:

de seus crimes a mancha inda recente
lava amor, e triunfa da verdade;
a beleza, apesar da falsidade,
me ocupa o coração, me ocupa a mente:

lembram-me aqueles olhos tantadores,
aquelas mãos, aquele riso, aquela boca suave, que respira amores...

ah! trazei-me, ilusões, a ingrata, a bela!
pintai-me vós, oh sonhos, entre flores
suspirando outra vez nos braços dela!"

(bocage)
thais gonçalves leite - se vc não se importar, meus comentários serão poemas a que relacionei aos teus quando li. beijo!