segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O poeta operário

Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!

O que? Versos?

Pura bobagem".
Talvez ninguém como nós ponha tanto coração no trabalho.
Eu sou uma fábrica.

E se chaminés me faltam talvez seja preciso ainda mais coragem.

Sei.

Frases vazias não agradam.

Quando serrais madeiraé para fazer lenha.

E nós que somos senão entalhadores a esculpir a tora da cabeça humana?

Certamente que a pesca é coisa respeitável.

Atira-se a rede e quem sabe?

Pega-se um esturjão!

Mas o trabalho do poeta é muito mais difícil.

Pescamos gente viva e não peixes.

Penoso é trabalhar nos altos-fornos onde se tempera o ferro em brasa.

Mas pode alguém acusar-nos de ociosos?

Nós polimos as almas com a lixa do verso.

Quem vale mais:
o poeta ou o técnico que produz comodidades?

Ambos! Os corações também são motores.

A alma é poderosa força motriz. Somos iguais.

Camaradas dentro da massa operária.

Proletários do corpo e do espírito.

Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fá-lo-emos marchar num ritmo célere.

Diante da vaga de palavras levantemos um dique!

Mãos à obra!

O trabalho é vivo e novo!

Com os oradores vazios, fora!

Moinho com eles!

Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!

Maiakovisk

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