quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Reinvindico minha parte

Do cristianismo,
o vinho e os pecados


Do inimigo de classe,
o sangue. na medida
do que por nós derramado


Da mulher que se foi,
o gosto que jaz ainda nos lábios


Da que chegar,
o gozo por nós fustigado

Da vida,
espinhos-e-flores

Sempre
em exata medida,
os-amores-e-as-feridas


Fábio che

Bom-mocismo

Não sou de sentimento acanhado
Seifem-me a vida
más enquanto não
vivo-a aos bocados
beboa-a em goles largos

Odeio os felizes
e pelos tristes
não nutro simpatia
Gosto sim é dos que vivem
amor e ódio intensos
todo o sentimento
a cada dia
Morte a logica formal
a razão
e a certeza
Impeçamos pois o proposto fim
de toda humana-beleza,
em prol
de tal racinalidade Dantesca
Porque em verdade,
a verdade é apenas
a parte capturada do todo
e só das dúvidas,
crises e incertezas
então
pode-se parir a razão
F Massari





Elogio da dialética

A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro.
Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer:
jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".

Bertold Brecht

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Lista de preferencias

Alegrias, as desmedidas
Dores, as não curtidas
Casos, os inconcebíveis
Conselhos, os inesquecíveis
Meninas, as veras
Mulheres, insinceras
Orgasmos, os múltiplos
Ódios, os mútuos
Domicílios, os temporários
Adeuses, os bem sumários
Artes, as não rentáveis
Professores, os enterráveis
Prazeres, os transparentes
Projetos, os incontingentes
Inimigos, os delicados
Amogos, os estouvados
Cores, o rubro
Meses, outubro
Elementos, os fogos
Divindade, o lógus
Vidas, as expontâneas
Mortes, as instantâneas.


Betold Bracht

Volver a los diecisiete

Volver a los diecisiete
Después de vivir un siglo
Es como descifrar signos
Sin ser sabio competente

Volver a ser de repente
Tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo
Como un niño frente a
Dios Eso es lo que siento yo
En este instante fecundo

Se ve enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra

Mi passo retrocedido
Cuando el de ustedes avanza
El arco de las alianzas
Ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido
Se ha paseado por mis venas
Y hastas la dura cadena
Con que nos ata el destino
Es como un diamante fino
Que alumbra mi alma serena

Se va enredando, enredando
Lo que puede el sentimiento
No lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder
Ni él más ancho pensamiénto
Todo lo cambia el momento

Cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente
De rencores y violencias
Solo el amor con su ciencia
Nos vuelve tan inocentes
Se va enredando, enredando
El amor es por divino
De pureza original
Hasta el feroz animal
Susurra su dulce trino
Detiene los peregrinos
Libera los prisioneros

El amor con sus esmeros
Al viejo lo vuelve niño
Y al malo solo el cariño
Lo vuelve puro y sincero
Se va enredando, enredando
De par en par la ventana
Se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto
Como una tibia mañana
Y al son de su bella iana
Hizo brotar el jazmin
Volando cual serafin
Al cielo me puso aretes
Y mis años en diecisiete
Los convirtó el querubin
Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musquito en la hiedra


Violeta Parra

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Nada é impossível de mudar

Desconfie do mais trivial,
na aparência singelo.

E examinai, sobretudo,

o que parece habitual.

Suplicamos expressamente:

não aceiteis o que é dehábito como coisa natual,

pois em tempo de desordemsangrenta,

de confusão organizada,

de arbitrariedade consciente,

de humanidade desumanizada,

nada deve parecer natual

nada deve parecer impossível de mudar.


Bertold Brecht

Outubro


In-verdades

Por vezes nos vestimos de medo
outras é o próprio medo quem nos veste
esse vírus
praga
peste

Menina mantenha as certezas,
não salte no vazio
tão pouco jamais ceda ao cio
conserve (o quanto possa) sua pureza

Pois a vida, em riste, espreita,
sempre pronta a deflorar tuas certezas

-Mas cuidado minha querida

A vida cercada de segurança
e de certezas protegida
talvez seja em si mesma"a não-vida"


Finda Outubro
e somos iguais em desgraça
um brisa que não volta
outro chuva que não passa...


Fábio Che

O poeta operário

Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!

O que? Versos?

Pura bobagem".
Talvez ninguém como nós ponha tanto coração no trabalho.
Eu sou uma fábrica.

E se chaminés me faltam talvez seja preciso ainda mais coragem.

Sei.

Frases vazias não agradam.

Quando serrais madeiraé para fazer lenha.

E nós que somos senão entalhadores a esculpir a tora da cabeça humana?

Certamente que a pesca é coisa respeitável.

Atira-se a rede e quem sabe?

Pega-se um esturjão!

Mas o trabalho do poeta é muito mais difícil.

Pescamos gente viva e não peixes.

Penoso é trabalhar nos altos-fornos onde se tempera o ferro em brasa.

Mas pode alguém acusar-nos de ociosos?

Nós polimos as almas com a lixa do verso.

Quem vale mais:
o poeta ou o técnico que produz comodidades?

Ambos! Os corações também são motores.

A alma é poderosa força motriz. Somos iguais.

Camaradas dentro da massa operária.

Proletários do corpo e do espírito.

Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fá-lo-emos marchar num ritmo célere.

Diante da vaga de palavras levantemos um dique!

Mãos à obra!

O trabalho é vivo e novo!

Com os oradores vazios, fora!

Moinho com eles!

Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!

Maiakovisk

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

La Razón

La razón tiene que bañarse en el sudor de el alma
Si no, que hacer con una razón que no arde,
no palpita,
que no tiene espasmos?


A mi no me sirve la razón infalible
de las certezas premeditadas.


Solo me sirve una razón que sea así
como un canto lleno de abismos para caírme,
para volar o para quedarme allí...
mirando, nada más.


Si, una razón que salga
caminando en la playa
expuesta al sol y al marcon


los pies cobiertos de la arena.


Una razón pequeña en la certeza
una razón enamorada de la sorpresa,
una razón de quien despierta,
despeinada razón para todo
aunque sea para nada.





Rafa Alencar

Dramatis Personae


Vagar no lume dos tempos

vaga-lume

Mergulhar na noite
de tua astúcia silenciosa

gume

Brindar a tua
na minha língua

berlinda

Corte no cômputo dos tempos

nova era

Conduzidos no lúgubre vento
através dos tempos
transcende dos homens

a fera


F. Massari

Amor Bastante

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante

foi como se eu olhasse

de dentro de um diamante

e meu olho ganhasse

mil faces num só instante


basta um instante

e você tem amor bastante


um bom poema leva anos

cinco jogando bola,

mais cinco estudando sânscrito,

seis carregando pedra,

nove namorando a vizinha,

sete levando porrada,

quatro andando sozinho,

três mudando de cidade,

dez trocando de assunto,

uma eternidade, eu e você,

caminhando junto


Paulo Leminsk
(ah, Somos iguais em desgraça
um brisa que não volta,
outro chuva que não passa...)

LUA ADVERSA



Tenho fases, como a lua

Fases de andar escondida,

fases de vir para a rua...

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!

Tenho fases de ser tua,

tenho outras de ser sozinha.


Fases que vão e vêm,

no secreto calendário

que um astrólogo arbitrário

inventou para meu uso.

E roda a melancolia

seu interminável fuso!


Não me encontro com ninguém

(tenho fases como a lua...)

No dia de alguém ser meu

não é dia de eu ser sua...

E, quando chega esse dia,

o outro desapareceu...



Cecília Meireles

terça-feira, 23 de outubro de 2007

J M


Panteônica
bebida dos deuses
precocemente maturada
em apenas três meses

O doce sabor da cana
tão doce que embriaga sem se perceber
e nesse sabor de cana perdesse ou (se) engana
nunca houvera sido por mim encontrada
cachaça em sabor comparada
tão rápida e precisamente preparada
sutil, intensa e ardentemente requintada

Doce como os grandes e pequenos lábios
não como todo lábio
mas como só os são os lábios da mulher desejada
macia como aquela pele sensível e recalcada
Saborosa
assim como os suspiros de mulher tão formosa

Daquelas que ao beber chega-se a imaginar
a paisagem gostosa de quando
era ainda cana na roça
saudosa como o roçar dos corpos
na embriagueis volúpia nossa

Embriagado de ti ó cana sagrada
vejo-me perdido em desgraça
do desejo de beber-te por inteiro
do que podia e não foi e
do desejo que não passa
E no espelho oceânico dos meus (infinitos)
trinta e um anos reparo...
-perfeita para ser coroada,
como presente de despedida da mulher amada...
Fábio Che

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Condição de Mulher




Fala baixo, podem escutar,

geme e xinga baixinho,

para não acordar o visinho.

Cuidado, a cama está rangendo.

E deste jeito, gemendo,

vai correr amanhã o boato

que tu praticaste um ato

eivado de desacato

à moralidade e ao Direito,

aos bons costumes e ao respeito.


E a visinha, com inveja

da tua simples liberdade

que ela não consegue ter,

vai espalhar no condomínio

que és um ser sem dominio,

predestinada a morrer,

que és uma gata perdida,

por certo ganhas a vida,

vendendo aos homens prazer.


Não vai ela entender nunca,

no vai e vem de sua vida.

que a sua vida não é vida,

É obrigação de ser

qualificada de esposa,

e neste estado ela não ousa

amar e sentir prazer,

pois, pela Religião

prazer é coisa do Cão,

é coisa pra não se ter,

prazer é pecado mortal,

o prazer fere a moral,

e as virtudes do "Alto Ser".


a pobre visinha escuta

todos os dias no rádio

que sentir prazer é pra puta,

que esposa é mulher "séria"

e a féria com que sustenta

sua vida e de seus rebentos,

por certo não advém

de estar à disposição

de um homem que a sustém.


O sistema incutido nela

que a que está à disposição

de um só pelo seu tostão

tem o "status" de esposa,

não se iguala a mariposa,

que troca o parceiro João

pelo José ou o Romão,

desde que lhe pague o pão.


Aprenda, visinha amiga,

que a tua condição é a mesma,

tendo até mais privilégio

a outra que está na zona,

pois esta não tem quem tome dela satisfação,

trabalha no dia que quer,

ela é bem mais mulher

na sua situação,

que uma "esposa" qualquer

debaixo de repressão.


Mulher companheira,amiga,

o que é o casamento,

se não ver teu sentimento

menosprezado até ao ponto

de transformá-lo em documento

com efeito de sacramento?

Atenta pra encenação

desta imbecil instituição,

que te põe na posição

de prostituta em ação,

porém como já falamos,

em condições bem piores

por não teres opção

de entregar teu sentimento

pra quem ditar teu coração.


Este é o jogo do Sistema

no papel que dá a mulher,

ou ela é Puta de Arena

ou Puta de um só José.


Maria do Carmo Lobato.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O deliciosojogo de brincar com o teu fogo


(Para uma mulher que de certo, prefere permanecer anônima)


Minha cara...
Quando abres tuas pernas
e a flor de teu desejo se revela
de cede já molhada
como que o desabrochar
de pétalas perfumadas

Desnudando a fresta estreita
aonde por detrás do vão
a um vulcão a espreitar
palpitando umidescente,
prestes a entrar em erupção
rio de lava incandescente,
aguardando o momento de jorrar

Esta casa que eterna arde em brasas
e que por mim tão desejada
Ah, ardente morada
Reentrâncias,
pequenos e grandes lábios
que minha língua sedenta e áspera percorre
em meio
a teus fervores
delícias
e sabores

Buscando ver em teu rosto
estampada a sensação
de quando desaparece
por completo
os valores e a razão

Em respiração descompassada
entregue a própria sorte
brincando com vida e morte
teu sorriso de dentes trincados
teu olhar semi-cerrado
teu gozo em riso estampado
Lapso de paixão
momento eternizado
de morte e ressurreição...
Fábio Che

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Amor Natural



"Ao delicioso toque do clitóris
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando."

("O amor natural", de Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Partida


"Quem me dera ficar, meu amor, de uma vez

Mas escuta o que dizem as ondas do mar

Se eu me deixo amarrar por um mês na amada de um porto,

Noutro porto outra amada é capaz de outro amor amarrar...

Minha vida, querida, não é nenhum mar de rosas.

Chora não, vou voltar...

Quem me dera amarrar, meu amor, quase um mês...

Mas escuta o que dizem as pedras do cais.

Se eu deixasse juntar de uma vez meus amores num porto

Transbordava a baía com todas as forças navais.

Minha vida querido, não é nenhum mar de rosas

Volta não, segue em paz...

Chora não, segue em paz...."

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Kianda


Kianda's existem ou não?

mito ou verdade para além da razão?

Sob o som do marulhar paciente das ondas

naquela noite enluarada,

muito embora fora d'água
caminhando na areia, ela
(como toda sereia)
já tendo hipnotizado a presa

Cobrava o preço
pelo desfrute de sua beleza

com seu olhar fugas,
derrubando todas as incertezas

devorava de forma contundente,
lenta e pacientemente
sua presa...


Fábio Che