terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tempo

Dentro de nosso tempo
existe um tempo só nosso,
com ritmos e sutilezas próprios

Onde a brisa do futuro
nos trás cheiros d'outra,
e a poesia de ontem ilumina
os versos de agora

Proprietários do tempo presente
Prepara tuas emboscadas
Pós nós vamos em frente
E nada nós roubara a alvorada

Fábio F. Massari

sábado, 12 de julho de 2014

Cicatriz

Viver mexendo em velhas feridas
É viver repetindo a dor e os males
Que nos causaram
Precaução?
Auto-flagelo?
Mecanismo de defesa e sofrimento
Guardar os mortos insepultos
Prefiro cicatrizar as feridas
Guardar a pele curada
Ainda que marcada
E leva-la desprotegida
Pra vida
Nua e viva
Pronta e a espera
Dos novos
Cortes e feridas
Orgulho-me de meu corpo
mutilado
Vivo
e
Marcado

Fábio F. souza

“Não é por medo das desilusões que me negarei a viver as paixões” Chico

Meu Homem

Era janeiro
Quando me pegou firme
Me segurou pelo pescoço
suspirei
Quando senti estalar o tapa
Com um sorriso
Assenti
Julguem-me
Não me importa
Marcava-me o corpo
Amarrava-me
castigava-me
Mas dor só me causou
Quando virou-me
As costas
E sumiu
Num fatídico mês de Abril

Yolanda Vasquez

A moça


Seus beijos suspirados
nada me cobrava
na busca apenas de prazer
sem valor
sem troca
sua boca
fala muitas línguas
passeando por meu corpo
que tudo cala
sutil me toca
enquanto intensamente
me provoca

Walter Sampaio

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Chega de amor

Esse negócio de amar tá na moda
Amor
Conheço bem esse sujeito
Boas promessas
Lábia doce e todo mundo entra na roda
De mansinho se aloja em teu peito
Depois é foda
Quero mais não
Bom mesmo é uma paixão
Dessas que te atraem pelo cheiro
Que os corpos se atracam
E se grudam pelos cabelos
Dessas que nada prometem
Que se entregam ao vazio
Que saltam no escuro
Que derramam a vida e as energias
Sem se pensar em futuro
Quero mesmo é esse sentimento
Soturno e obscuro
Sem grandes investimentos
Sem lucros
Sem juros
Sem posses
Sentimento
intenso e puro
Corpos febris que
Na madrugada se amam na rua
Em um beco escuro
Embriagues
Perdição
Delírio
Desejo
Tesão
Oceano de fogo
No inverno
Que a paixão me vista qual camisa
Que quando passar deixe-me
Saudade gostosa
E que seu cheiro vez em quando
Volte com a brisa
Que por não se realizar será eterna
Saudosista e formosa
Amor
Se virem por ai esse hábil sujeito
Digam-lhe que
Que com ele nada mais quero não
Estou flertando com
Sua irmã caçula
A jovem senhorita paixão

Pablo de La Mancha

sexta-feira, 20 de junho de 2014

As amantes

A amante que chegou
Me amou e partiu
A que nem tanto me amou
e por um tempo ficou
A que me fez murmurar de desejos
A outra que por muito me fez
Relembrar os seus beijos
A passageira
A pra vida inteira
A que me levou ao inferno
A que mostrou o paraíso
A que me fez prantos
A que me arrancou sorrisos
A que feri
A que ressentiu
A que magoei
A que me feriu
A que não me esquece
A que nunca lembrou
A da paixão que nos queimou a carne
E aquela, quase pueril
Aquela por mim mais amada
E a que durou uma só madrugada
A platônica
E a negligenciada
Aquela do amor construído
E a do amor-emboscada
A do amor temor
A do amor sem medo
Dos longos e passageiros
Amores e desejos
E mesmo a do amor placebo
intensas lembranças guardo
Pois em mim deixaram
cada uma suas marcas
E assim marcado
Em meu ser mosaico
Sou em grande medida somos
seus bocados
Assim, cada amante cada amada
é também parte de mim

Fábio F. Massari

sábado, 7 de junho de 2014

A LÓGICA

A logica formal da tua língua
Vai de encontro com a minha dialética
Que deixa nua tua equação.
A logica pura da tua castidade
Penetra na minh´alma nefasta
Só por simples diversão.
E rio,
Que mais estranha contradição!
Vc, coração recato,
ela pele lasciva.
Pura erotização.
(rosa)

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Vermelha

E assim, chegou sem avisar
Vermelha, como as coisas de Outubro
Perfumada e florida como que primavera
E a mim nada mais restou, que não assistir
Sua efêmera passagem em minha vida
Como que um delicado desfile
de cores vibrantes
e luzes incandescentes

Uma dessas coisas que so se escreve para ler ao ouvido de alguém e nem sempre se lê...

Movido a amor

Por ele vivo
Por ele luto
Por ele planto futuros
E reviro passados
Por ele caminho
ombro a ombro
com companheiros
Por ele pulo muros
Quebro regras
Por ele trabalho
E as vezes me nego a levantar

Ele manifesta-se de varias formas
O terno
O de fogo
O emanado
Cada qual com seu próprio tempo
O duradouro
O que nos segue sempre
E o que por nós passa apressado

Por vezes menino arteiro
Outras s'abio ansiao
Intenso
Terno
ou
Contraditório
As vezes chega de mansinho
Ouras arras quarteirão
Contudo habita gostosamente
O fustigado coração

Os vários tipos dele convivem comigo
lado a lado
Por ele grito
Por ele também calo
Me impacienta quem atoa procura
O sentido da vida...
Definitivamente não é o trabalho
É o amor caralho!!!
Por um...
Por dois, três
Ou por toda a humanidade
Assim sigo
Como força motriz
Amor e camaradagem

A ele rogo todos os dias
Nao me abandones companheiro,
Sem você meu peito 'e terra vazia
Me enche e me transborda
Pois só de ti preenchido sou inteiro

Pequeno manual

Quando tudo acabar
despetala de uma só vez
as rosas de teu jardim
não deixe que morram
aos poucos secas
de sede e desafeto

permita-te também
morrer com elas
uma a uma, petá-la a petá-la
vive inteira tuas dores

vivencie saborosa e dolorosamente
tuas angustias e mágoas
e permite-te também o luxo
de não ser compreensível

na próxima primavera (elas sempre chegam)
Com sorte, junto a novas rosas
floresçam novas perspectivas

dedica ao futuro
tuas esperanças
teus anseios
ao passado, não mais
que aprendizado

busca o carinho
em outras pessoas
o calor e as delícias
de outros corpos
porém, mais que sexo,
faça novos amigos
(são mais duradouros)

sobretudo com as marcas
lembranças, saudades e inquietações
te permite construir uma obra de arte
um mosaico do vivido

observa-o com carinho
faz teu balanço
aprende contigo e tuas experiencias
sobretudo não negas tuas dores,
vive-as inteiras
são parte constitutiva de ti

antes de cair na tentação de colorir
artificialmente tua vida
observa com algum carinho
teu mundo cinza
e aprende tua beleza

refuta a visão romântica
e bela que tens de tu mesmo
sem pressa de novas certezas

depois repara, que a primavera
não chega de uma vez
ela
vem aos pouquinhos
primeiro um
ou outro tom pastel
cores dispersas e frágeis

que vão se avivando
tornando-se quentes
ate explodirem em saturação

por fim quando um dia
novamente
te visitar a paixão
escancare portas e janelas
e irresponsavelmente convide-a a entrar
sirva-a seu melhor vinho
prepare teu melhor jantar

Não fuja nem se negue
não pense nas dores futuras
não tema as futuras feridas
A dor é sempre na medida do prazer
e este é seguramente o fluxo da vida

Pablo de la mancha

terça-feira, 6 de maio de 2014

De peito aberto



Tivesse vivido outra realidade
Teria sido diferente
Seria talvez
Pacato, reto, obediente
Seria defensor da ordem
Como essa gente decente
A gente de bom coração
Mas cá no seio de minha classe
Em meio a fome e injustiça
O peito é lar de indignação
Quem dera sentir o peito palpitar doce
e docilmente
Mas meu coração...
Esse tem sangue nos dentes!!!

Fábio F Massari

Réquiem dos amantes

Tudo já distante
Lá pelo fim do caminho
Repentinamente
Aqueles lábios
Passam em minha vida
E por não mais que
uma madrugada
Seu corpo me aquece
Como que dando vida aos mortos
resignifica a jornada
Seu rastro como trilha
Sua boca calada
Denunciam
Que ainda há muita que se percorrer nessa estrada

Pablo De la Mancha

amores loucos

ah...esses ,
roucos,
que não dormem.

que doem,
que ardem,
que consomem.

amores obscenos,
aparentemente plenos,
mas que matam
e nunca morrem.

Rosa

Amor vendimia

Sobre cartas de amor

Una carta de amor
no es un naipe de amor

una carta de amor tampoco es una carta
pastoral o de crédito / de pago o fletamento

en cambio se asemeja a una carta de amparo
ya que si la alegría o la tristeza
se animan a escribir una carta de amor
es porque en las entrañas de la noche
se abren la euforia o la congoja
las cenizas se olvidan de su hoguera
o la culpa se asila en su pasado

una carta de amor
es por lo general un pobre afluente
de un río caudaloso
y nunca está a la altura del paisaje
ni de los ojos que miraron verdes
ni de los labios dulces
que besaron temblando o no besaron
ni del cielo que a veces se desploma
en trombas en escarnio o en granizo

una carta de amor puede enviarse
desde un altozano o desde una mazmorra
desde la exaltación o desde el duelo
pero no hay caso / siempre
será tan sólo un calco
una copia frugal del sentimiento

una carta de amor no es el amor
sino un informe de la ausência.

Mario Benedetti

sábado, 5 de abril de 2014

Memória presente

A alguns anos


OS tanques tomaram ruas
Botas pisaram gargantas que
Gritavam por justiça
A violência desabou sobre aqueles que tinham fome
E os que queriam partilhar o pão
Nos porões a vida se esvaia
Com o sangue derramado na tortura
Nas ruas e becos, a luta seguia
Tentaram destruir nossa perspectiva
De futuro, como resposta a sua violência
Encontraram a nós
E nos fizemos resistência
Vestimos a mortalha
Trocamos panfletos por pistolas
Megafones por fuzis
E ninguém mais estava inscrito para fala
Salvo prévia prática revolucionária
50 anos se passaram
O inimigo não venceu a guerra
Apenas a batalha
Seguimos, embora muitos de
Nós se façam ausência
Mas quando não houver mais fome
Nem esmolas
Quando homem e mulher
Andarem lado a lado
Quando a injustiça não tiver mais
Lugar
Quando não restar nenhum grito silenciado
E a vida não for apenas anseio
Quando não houver quem trabalhe de mais
Nem quem viva do trabalho alheio
Nossos irmãos mortos serão ainda lembrados.
Assim onde quer que estejamos,
Em cada escola
cada sindicato
cada periferia,
cada barraco,
cada abrigo,
tecemos cuidadosamente a mortalha do inimigo.

Fábio F. Massari

Baader meinhof`s

Filmes e reportagens

Homenageiam meninos da Alemanha oriental
Que bravamente lutaram
para derrubar o muro
E o fizeram
derrubando-o a direita
Poucos ousam contar que em
sua maioria se arrependeram
E um pacto de silencio
tenta enterrar os meninos e meninas
que do outro lado do muro (capitalista)
tentaram derrubar o muro a esquerda
e presos
e torturados
morreram
Sem se arrepender.

Fábio F.(Massari)
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mario Quintana

Ossos do ofício


“A vida que levamos nos condiciona, lenta e cuidadosamente”





Por ser pobre,
Começou a trabalhar ainda aos oito anos

como pequena escrava domésticaem sua luta por pão, tinha de fazer a comida dos patrões,
utilizava uma cadeira como forma de alcançar o fogão
por ser pobre, amadureceu cedo
por ser pobre, perdeu ainda jovem sua saúde
trocando-a por baixos salários

Assim, depois de uma vida de trabalho
seus patrões permaneceram jovens e saudáveis por mais tempo

quando adulta, ao adoecer (Por ser pobre) e não poder pagar o aluguel
teve sua casa destelhada, e lá doente dormiu,
muitas noites sob as estrelas do Recife
ao lado de suas pequenas filhas, que como ela,
por serem pobres, de cedo já trabalhavam

Deste modo vivera, passou seus anos, entre suor, trabalho, lágrimas, alegrias, encantos e enganos... assim, minha avó, já no fim da vida, por ser pobre, ainda jovem, aos 75 já acabada, lamentava sua osteoporose avançada amargurando uma incurável perna quebrada Então, pela ultima vez fora internada em um hospital precário e lotado abandonada a própria sorte agonizou por uma semana quando morreu, Causa mortes POBREZA Nós, por sermos também pobres compramos o caixão mais barato como um ultimo símbolo de sua pobreza em vida e morte ainda no hospital, em um público necrotério coube a mim, seu neto mais velho (minha mãe não conseguiria) prepara-la para o caixão retora-la de sua posição fetal da morte, de modo que, ainda muito jovem, me restou entre lágrimas quebrar vários de seus pequenos e delicados ossos para que assim coubesse em sua ultima e pequena morada Hoje, com espanto olham-me, quando discorro meu ódio por cada patrão acusam-me de violência quando digo que gostaria de quebrar delicadamente os ossos da burguesia Dizem-me – Porque tanto ódio e não sentimentos nobres? Respondo – Por ser pobre!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

The Wall

Quando o pesado muro caiu
Em Berlin

E os primeiros raios da liberdade
Brilharam no céu da ex união, ex soviética
A alegria fora quase geral
Apenas uma parte dos velhos
Olhavam desconfiadamente para
O futuro promissor
Que se anunciava

Os jovens saudavam eufóricos
As novas possibilidades
A sonhada felicidade
E as novas mercadorias
Os industrias saudavam entusiasmados
As novas possibilidades
A nova força de trabalho
Os novos mercados

Sem os entraves anteriores
Tudo cambiou rápido
Até o velho sistema de aquecimento
Sem a burocracia estatal
Fora em pouco tempo
Inteiramente trocado
Por um novo e mais eficaz
Esse era privado

Porém já no primeiro inverno
Do sonho encantado
Descobriram alguns jovens
As contradições de sua sorte

Após queimarem os livros

As estantes

E até mesmo o velho piano

O Frio
Implacável
Continuava
E os convidava
Para a morte

Mas disso os velhos já sabiam.



Fábio Francisco (Massari)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Os assistidos

As pequenas mudanças
são inimigas das grandes mudanças

O novo requer grandes e radicais
transformações
Ao passo que o velho requer
tão somente reformas

O pouco pão cria o medo
da ausência total de Pão

A fome exige saciedade
e seus portadores a saciam
Dentro ou fora da lei
a favor ou contra a ordem

O bom rei, declarou guerra a fome do povo
Bem soubesse o povo, declararia guerra ao rei bondoso

Fábio Francisco (Massari)

Violência

Emudecida pela mão
Que tapava-lhe a boca
Mal podia respirar,
A outra firmemente
Apertava-lhe o pescoço
Relutava já fora de sí
Quase sem forças
Como desfecho
brutal se anuncia o gozo

Fábio Francisco(Massari)

DR (Distúrbio Romântico)

Escorriam as palavras,
feito sangue naquela madrugada

E as letras, feito gotas
Manchavam as paredes do silêncio
Dos amantes...

Frases inteiras
Feito poças vermelhas
Amontoavam-se no chão

Num canto
A faca da mágoa, de anos
De convívio repousava afiada e úmida

Fábio Francisco(Massari)