“A vida que levamos nos condiciona, lenta e cuidadosamente”
Por ser pobre,
Começou a trabalhar ainda aos oito anos
como pequena escrava domésticaem sua luta por pão, tinha de fazer a comida dos patrões,
utilizava uma cadeira como forma de alcançar o fogão
por ser pobre, amadureceu cedo
por ser pobre, perdeu ainda jovem sua saúde
trocando-a por baixos salários
Assim, depois de uma vida de trabalho
seus patrões permaneceram jovens e saudáveis por mais tempo
quando adulta, ao adoecer (Por ser pobre) e não poder pagar o aluguel
teve sua casa destelhada, e lá doente dormiu,
muitas noites sob as estrelas do Recife
ao lado de suas pequenas filhas, que como ela,
por serem pobres, de cedo já trabalhavam
Deste modo vivera, passou seus anos,
entre suor, trabalho, lágrimas,
alegrias, encantos e enganos...
assim, minha avó, já no fim da vida,
por ser pobre, ainda jovem,
aos 75 já acabada,
lamentava sua osteoporose avançada
amargurando uma incurável perna quebrada
Então, pela ultima vez fora internada
em um hospital precário e lotado
abandonada a própria sorte
agonizou por uma semana
quando morreu,
Causa mortes POBREZA
Nós, por sermos também pobres
compramos o caixão mais barato
como um ultimo símbolo de sua pobreza em vida e morte
ainda no hospital, em um público necrotério
coube a mim, seu neto mais velho
(minha mãe não conseguiria) prepara-la para o caixão
retora-la de sua posição fetal da morte, de modo que, ainda muito jovem, me restou entre lágrimas quebrar vários de seus pequenos e delicados ossos
para que assim coubesse em sua ultima e pequena morada
Hoje, com espanto olham-me,
quando discorro meu ódio por cada patrão
acusam-me de violência quando digo
que gostaria de quebrar delicadamente os ossos da burguesia
Dizem-me – Porque tanto ódio e não sentimentos nobres?
Respondo – Por ser pobre!
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