sábado, 5 de abril de 2014

Ossos do ofício


“A vida que levamos nos condiciona, lenta e cuidadosamente”





Por ser pobre,
Começou a trabalhar ainda aos oito anos

como pequena escrava domésticaem sua luta por pão, tinha de fazer a comida dos patrões,
utilizava uma cadeira como forma de alcançar o fogão
por ser pobre, amadureceu cedo
por ser pobre, perdeu ainda jovem sua saúde
trocando-a por baixos salários

Assim, depois de uma vida de trabalho
seus patrões permaneceram jovens e saudáveis por mais tempo

quando adulta, ao adoecer (Por ser pobre) e não poder pagar o aluguel
teve sua casa destelhada, e lá doente dormiu,
muitas noites sob as estrelas do Recife
ao lado de suas pequenas filhas, que como ela,
por serem pobres, de cedo já trabalhavam

Deste modo vivera, passou seus anos, entre suor, trabalho, lágrimas, alegrias, encantos e enganos... assim, minha avó, já no fim da vida, por ser pobre, ainda jovem, aos 75 já acabada, lamentava sua osteoporose avançada amargurando uma incurável perna quebrada Então, pela ultima vez fora internada em um hospital precário e lotado abandonada a própria sorte agonizou por uma semana quando morreu, Causa mortes POBREZA Nós, por sermos também pobres compramos o caixão mais barato como um ultimo símbolo de sua pobreza em vida e morte ainda no hospital, em um público necrotério coube a mim, seu neto mais velho (minha mãe não conseguiria) prepara-la para o caixão retora-la de sua posição fetal da morte, de modo que, ainda muito jovem, me restou entre lágrimas quebrar vários de seus pequenos e delicados ossos para que assim coubesse em sua ultima e pequena morada Hoje, com espanto olham-me, quando discorro meu ódio por cada patrão acusam-me de violência quando digo que gostaria de quebrar delicadamente os ossos da burguesia Dizem-me – Porque tanto ódio e não sentimentos nobres? Respondo – Por ser pobre!

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