quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sufrágio universal


I

A política, todos sabem,
É quem a tudo define

A miséria não cessa se não por decreto
E a fome só se acaba, se contra ela,
O parlamento assinar um veto
E tudo é uma questão de vontade política,
Secundário são os atos concretos


Portanto escolha o salvador,
Cuide para que seja eleito
E através de seu voto-livre-e-direto, assegure
Que a humanidade esteja finalmente no rumo certo


II

Entretanto meus amigos,
Há infames que nada sabem
Acerca do que lhes digo

Negam que "A voz do povo é a voz de Deus"
Antes fossem apenas ateus, mas
negar-se a democracia???
Vândalos, baderneiros homens de alma vazia.

Propagam indubitável uma blasfema-heresia
Dizem que o Estado-Burguês é autônomo,
E que sob direção de esquerda ou de direita, nada mudaria

Que a fome continuaria a ser fruto das barrigas vazias

Que as relações "capitalistas de esquerda", simples relação capitalista seria
Que as fábricas através de suas jornadas, ainda o homem adoeceria
E que, como hoje, este pobre e sem saúde envelheceria
Que os ricos continuariam a ficar mais ricos com a extração de mais valia
Que as crianças descalças e com fome, ainda se prostituiriam
Que operários e estudantes ainda protestariam, que o Estado ainda os reprimiria
Que as borrachadas ainda arderiam e a bala quando se abatesse contra o peito ainda mataria.

E que tudo só mudaria, por sua vez,
Destruindo a sociedade de classes
E o Estado burguês

III

Mas deixemos de lado os insanos, voltemos a lucidez

Todos sabem que a miséria relativa é necessária,
cuide pois para que os miseráveis não sejam vocês

Pacíficos e ordeiros filhos das cidades
Herdeiros da modernidade
Em nossa sína democrática
E nosso jeito civilizado, seguimos
E não se deixe enganar,
Já que nada, de fato decides,
Te resta portanto apenas se dedicar
A decidir quem por ti decidirá

Vamos nos embriagar de democracia
Todos sabem sem os (nossos) parlamentares
Nada cresceria e sem os (nossos) executivos
A própria noite jamais se faria dia

Não me venham com utopias
Todos sabem sem nossos mandatos a luta cessaria
Sem tomar o Estado burguês, nunca nós tornaríamos...
Hum-hum.. digo, nunca derrotaríamos a burguesia

Por isso conclamamos, bóias-frias e estudantes,
Homens e mulheres, pequenos-burgueses e proletários
Enfim toda a massa, (claro, a exceção dos baderneiros)
A mudar através do voto livre direto a realidade do mundo inteiro

...
A política, todos sabem,
É quem a tudo define
A miséria não cessa se não por decreto
E a fome só se acaba, se contra ela,
O parlamento assinar um veto
E tudo é uma questão de vontade política,
Secundário são os atos concretos
Portanto escolha o salvador,
Cuide para que seja eleito
E através de seu voto-livre-e-direto, assegure
Que a humanidade finalmente esteja no rumo certo

Fábio Che

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