quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Desdobramentos
Quando os indivíduos depuseram as armas
os corpos se entrelaçaram
Após o amor depôr as armas
a paixão já era finda
As mãos em pala procuravam a saída do vazio
mas o vazio era tudo o que encontravam
Ela o amava, tanto quanto ele a ela
mais de tanto temer a morte do amor
a este mataram de tédio
Fábio F. Massari
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Quadrilhas
A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor
Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor
Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor
Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha
(Chico)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história (Drumont)
Negro amor
Vá, se mande, junte tudo que você puder levar
Ande, tudo que parece seu é bom que agarre já
Seu filho feio e louco ficou só
Chorando feito fogo à luz do sol
Os alquimistas já estão no corredor
E não tem mais nada negro amor
A estrada é pra você e o jogo é a indecência
Junte tudo que você conseguiu por coincidência
E o pintor de rua que anda só
Desenha maluquice em seu lençol
Sob seus pés o céu também rachou
E não tem mais nada negro amor
E não tem mais nada negro amor
Seus marinheiros mareados abandonam o mar
Seus guerreiros desarmados não vão mais lutar
Seu namorado já vai dando o fora
Levando os cobertores? e agora?
Até o tapete sem você voou
E não tem mais nada negro amor
E não tem mais nada
Negro amor
As pedras do caminho deixe para trás
Esqueça os mortos eles não levantam mais
O vagabundo esmola pela rua
Vestindo a mesma roupa que foi sua
Risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
E não tem mais nada negro amor
Bob Dylan
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Sufrágio universal
I
A política, todos sabem,
É quem a tudo define
A miséria não cessa se não por decreto
E a fome só se acaba, se contra ela,
O parlamento assinar um veto
E tudo é uma questão de vontade política,
Secundário são os atos concretos
Portanto escolha o salvador,
Cuide para que seja eleito
E através de seu voto-livre-e-direto, assegure
Que a humanidade esteja finalmente no rumo certo
II
Entretanto meus amigos,
Há infames que nada sabem
Acerca do que lhes digo
Negam que "A voz do povo é a voz de Deus"
Antes fossem apenas ateus, mas
negar-se a democracia???
Vândalos, baderneiros homens de alma vazia.
Propagam indubitável uma blasfema-heresia
Dizem que o Estado-Burguês é autônomo,
E que sob direção de esquerda ou de direita, nada mudaria
Que a fome continuaria a ser fruto das barrigas vazias
Que as relações "capitalistas de esquerda", simples relação capitalista seria
Que as fábricas através de suas jornadas, ainda o homem adoeceria
E que, como hoje, este pobre e sem saúde envelheceria
Que os ricos continuariam a ficar mais ricos com a extração de mais valia
Que as crianças descalças e com fome, ainda se prostituiriam
Que operários e estudantes ainda protestariam, que o Estado ainda os reprimiria
Que as borrachadas ainda arderiam e a bala quando se abatesse contra o peito ainda mataria.
E que tudo só mudaria, por sua vez,
Destruindo a sociedade de classes
E o Estado burguês
III
Mas deixemos de lado os insanos, voltemos a lucidez
Todos sabem que a miséria relativa é necessária,
cuide pois para que os miseráveis não sejam vocês
Pacíficos e ordeiros filhos das cidades
Herdeiros da modernidade
Em nossa sína democrática
E nosso jeito civilizado, seguimos
E não se deixe enganar,
Já que nada, de fato decides,
Te resta portanto apenas se dedicar
A decidir quem por ti decidirá
Vamos nos embriagar de democracia
Todos sabem sem os (nossos) parlamentares
Nada cresceria e sem os (nossos) executivos
A própria noite jamais se faria dia
Não me venham com utopias
Todos sabem sem nossos mandatos a luta cessaria
Sem tomar o Estado burguês, nunca nós tornaríamos...
Hum-hum.. digo, nunca derrotaríamos a burguesia
Por isso conclamamos, bóias-frias e estudantes,
Homens e mulheres, pequenos-burgueses e proletários
Enfim toda a massa, (claro, a exceção dos baderneiros)
A mudar através do voto livre direto a realidade do mundo inteiro
...
A política, todos sabem,
É quem a tudo define
A miséria não cessa se não por decreto
E a fome só se acaba, se contra ela,
O parlamento assinar um veto
E tudo é uma questão de vontade política,
Secundário são os atos concretos
Portanto escolha o salvador,
Cuide para que seja eleito
E através de seu voto-livre-e-direto, assegure
Que a humanidade finalmente esteja no rumo certo
Fábio Che
Conselhos democráticos
Vote!!!
Vote consciente, vote certo
Vote por interesse,
Ou vote por protesto
Vote por crença,
Vote por afeição
Vote por amizade,
Ou por centralização
Vote!!!
Pouco importa qual sua razão
Vote!!!
Seja por ideologia, Seja em troca de pão
É chegado seu grande dia
Faça valer a democracia,
vote!!!
Exerça sua cidadania
Seja cordeiro,
Digo,
Seja ordeiro... e reto
Vote consciente, vote certo!!!
Independente ao resultado
Consolide a democracia
Exerça sua cidadania
As urnas cidadãos!!!
No dia X e na hora H,
Este é o seu momento
Sua (única) parte no espetáculo
Do "nosso" crescimento
Tenha em mãos números
E na cabeça um candidato
É, o seu momento, é sua grande cena
É de grande importância
Não tome por coisa pequena
Vote consciente, vote certo!!!
Depois volte pra casa
E deixe conosco o resto
Decidir os rumos da vida
Não é coisa de gente amena
Volte pro futebol, boteco
Loura-gelada e toda a sua alegria
Durma bem, e até outro dia
Daqui mais dois ou quatro anos
Te convidamos
Para outra grande festa
Mais um show de democracia
Fábio F Massari e Fernado Coelho
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Vazios são os dedos
secos de vida
Os olhos vazios de dor
a culpa se faz ausente
As alegrias mesquinhas são
a unica felicidade presente
O novo comemorado
não passa do velho reeditado
A nova bomba explode
em meio aos velhos gritos
A nova fome reforça os velhos ritos
Inertes assistimos
o que não parece finito
A esperança é relegada a um Deus
que nunca esteve vivo
Enquanto a humanidade morre
em guetos e praças
ninguém escapa
aquele que não morreu
segue débil e torto
Murmurando suas revoltas pelos cantos
esta vivo, está morto
Mortos vivos, sem fibra
nem autonomia, revoltos
pós-modernos verborrágicos
reinteram suas esperanças nas diversidades
nos intermináveis debates, nas lutas pacíficas
suas revoltas vazias tem como teto a democracia
O novo comemorado
não passa do velho reeditado
A nova bomba explode
em meio aos velhos gritos
A nova fome reforça os velhos ritos
Divina Comédia Humana
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol
Quando você entrou em mim como um Sol no quintal
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou ser feliz direito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou viver satisfeito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um transa sensual
Deixando a profundidade de lado
Eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia
Fazendo tudo de novo e dizendo sim à paixão morando na filosofia
Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno
Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso
Eu vos direi no entanto:
Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não
Eu canto
Belchior
Toledo
Eram dois...
eram ele e ela
dois, em uma
barraca pequena
ela por ele
em cima
ele dentro
embaixo
atrás
ao lado
dentro dela
ela gemia
ele sorria
e gozava
ela gritava
ele batia
ela provocava
ele puxava-lhe os cabelos
e ela inclinava
ainda mais as ancas
giros fortes
ela
ele
dentro dela,
apenas os dois.
Há 40 graus
então tudo muda
ela por cima
o comia
dizia mexe
dizia goza
ela por cima
dele, gozava
ele dentro dela
ela pedia
dizia mete
dizia fode
mandava nele
e ele só fazia
o que ela queria.
gozos insanos
no limite da luxúria
e da ousadia
Assim os dias tornavam-se noites
e as noites outra vez
viravam dia
Aulas de Vôo
Aula de Vôo
O conhecimento
caminha lento feito lagarta.
Primeiro não sabe que sabe
e voraz contenta-se com cotidiano orvalho
deixado nas folhas vividas das manhãs.
Depois pensa que sabe
e se fecha em si mesmo:
faz muralhas,
cava Trincheiras,
ergue barricadas.
Defendendo o que pensa saber
levanta certeza na forma de muro,
orgulha-se de seu casulo.
Até que maduro
explode em vôos
rindo do tempo que imagina saber
ou guardava preso o que sabia.
Voa alto sua ousadia
reconhecendo o suor dos séculos
no orvalho de cada dia.
Mas o vôo mais belo
descobre um dia não ser eterno.
É tempo de acasalar:
voltar à terra com seus ovos
à espera de novas e prosaicas lagartas.
O conhecimento é assim:
ri de si mesmo
E de suas certezas.
É meta de forma
metamorfose
movimento
fluir do tempo
que tanto cria como arrasa
a nos mostrar que para o vôo
é preciso tanto o casulo
como a asa
Mauro Iasi
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