quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ode ao burguês

Eu insulto o burgês!
O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva!
o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas! os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros! que vivem dentro de muros sem pulos, e gemem sangues de alguns mil-réis fracos para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam os "Printemps" com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais
Morte ao burguês-mensal! ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa!
Morte viva ao Adriano! "
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos? _ Um colar...
_ Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"
Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares!
Morte à infâmia! Ódio à soma!
Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso!
Eia! Dois a dois! Primeira posição!
Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto!
Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos, cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho!
Ódio fecundo!
Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Mário Raul de Morais Andrade

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