sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O poeta-operário

Grita-se ao poeta:
“Queria te ver numa fábrica!
O que? versos? Pura bobagem!

Para trabalhar não tens coragem.”
Talvez ninguém como nós ponha tanto coraçãono trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés me faltam talvez sem chaminés
seja preciso ainda mais coragem.

Sei.
Frases vazias não agradam.

Quando serrais madeira é para fazer lenha.
E nós que somos senão entalhadores a esculpira tora da cabeça humana?
Certamente que a pescar é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.

Penoso é trabalhar nos altos-fornos onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas com a lixa do verso.

Quem vale mais:
o poeta ou o técnico que produz comodidades?

Ambos! Os corações também são motores.

A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fa-lo-emos marchar num ritmo célere.

Diante da vaga de palavras levantemos um dique!

Mãos à obra!
O trabalho é vivo e, novo!
Com os aradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos que façam mover-se a mó!


Vladmir Maiakoviski (1893 1930)



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