terça-feira, 28 de março de 2017

Amor

Outono
fim de tarde
o som de chuva
da vitrola escapa
Nina Simone

Em minha boca
repousam

o sabor do vinho,
o gosto de teus lábios,
e a pronuncia doce 
de teu nome

Fábio Francisco



sexta-feira, 24 de março de 2017

A fome como companheira

(sobre materialismo e consciência)

Se conheceram ainda cedo
brincaram juntos de pequeno
com ela fora a escola
aprendeu ler a fome
aprendeu soma-la e multiplica-la
ela não lhe abandonava
com ela aprendeu jogar bola
ela não o deixou temer 
o escuro, a solidão, a violência
seu único medo era não viver
e isso devia a ela
dialogando com ela compreendeu o mundo
sempre quis afastar-se dela, mas ela
boa companheira, o seguiu por muito tempo
uma vez, até se apaixonou, mas quem diz que o amor 
supera barreiras, desconhece sua antiga companheira
Assim, já adulto e cansado de sua companhia
vale lembrar, ela o preenchia, ela o desconcertava
já não aguentava aquela amizade, precisava acaba-la
carecia encontrar saída, era ela, ou sua própria vida
todos da boa sociedade chocaram-se 
(em verdade eles nem a conheciam)
quando em gesto insano e abrupto resolveu mata-la,
todos que em seu caminho a defendessem ele mataria
sua brutalidade e violência, ninguém da boa sociedade
compreendia, tudo era tão belo, tão cheio proposito 
e vida, perspectivas e jardins de flores coloridas,
porque só ele não via?

(Massari)


Como foto da foto
como registrar o movimento
da borboleta em pleno voo
da música fotografar a melodia
ou amor da pessoa amada
metalinguagem é registrar 
a fotógrafa na fotografia
poema sobre a poesia

(Massari)

Pouco

Era pouco verso 
pra tanta fotografia
era pouca luz 
pra tanta poesia...

Fábio Francisco




quarta-feira, 22 de março de 2017

Receita

Para começar bem o dia
antes de enfrentar gigantes
e ferozes moinhos de vento
um café e um pouco de poesia

(Massari)

Versos lúbricos

Por ti, canto a
ode a carne,
ao humano prazer,
a luxúria existente
entre eu e você

Persiste no humano
para além do (hoje conservador)
amor romântico 
as lascívias sensações
do libidinoso cântico

Dentre as coisas
que amamos 
eu e você
destaca-se 
com intensidade
o intenso prazer

Nosso ritual, 
prazer mundano,
nossas danças de 
acasalamento, 
seguimos 
nos devorando
sagrado e carnívoro 
sentimento

Fábio Francisco


Arte

Arte
é aquela coisa inútil
dizia Wilde
da qual ninguém precisa
e nos humaniza
Pois precisar
se precisa de casa


e comida
A arte pro estomago
é inútil
arte é alimento da alma
coisa da fantasia.

(Massari)



quarta-feira, 15 de março de 2017

Vim de longe, vou mais longe

Eu, parte de um todo
do qual sou apenas parte,
nasci antes de mim,
por isso, não morro
com o fim de minha
efêmera existência individual.
Minha vida transitória está
a serviço de meu ser social,
assim, sigo para além de mim,
minha classe me faz imortal.


Fábio F. Massari



domingo, 12 de março de 2017

Enamorados

Como nas melhores
coisas da vida
nada fora planejado
vinhamos ambos
de outras viagens

Conhecedores
de paisagens belas
fugitivos de velhas celas
trazíamos na mala
algum cansaço
e muita sede de vida

Um vinho
o sexo
a sintonia
a identidade
identicas eram
também as feridas
mas sobre tudo
a sede de vida
compramos juntos
nossa primeira passagem

Juntamos as malas
compartimos, o mapa
a bússola, os planos
juntos embarcamos
fazem alguns anos
nossa ousada viagem

Trocamos as celas
por uma larga janela
onde a beleza não mais
é ornamento,
pode ser sentida
tocada,
vivida,
provada,
sem perdas e danos

Assim seguimos vivendo,
viajando, livres, emanados
loucos e apaixonados
modestos são
nossos planos
de viagem
uma revolução
nosso amor
e uma bela paisagem

Para minha amada:

(Massari)

sábado, 4 de março de 2017

O culto a casca de F(e)rida

Frida, militante comunista, pintora e indígena
nos expõe suas feridas
Profundas e coloridas
Feridas sociais de seu tempo
expostas e vividas
Hoje incorporada sem vida
Todos cultuam a casca de Frida
O que ela pensava?
Que mundo defendia, a comunista colorida?
Todos cultuam apenas a casca
de suas feridas
Pois são belas e coloridas

(Fábio Francisco)