sexta-feira, 29 de junho de 2007

Delírio nas quatro estações...

Feito açoite rasgar o véu de tua noite
e
Irromper-te com os raios de meu dia

Penetrando-te em profundo
com com toda força, cede e euforia

Beijar-te doce em dia quente,
puxar teus cabelos, morder-te os lábios
e penetrar-te brusco em noite fria

Invadir com minha língua teu sexo
sentir teu sabor aos poucos...
com teus lábios e língua e dentes no entorno de meu corpo


E já findando a primavera
pintar-te eternizando-te em gravura
com um pincel retirado de teus cabelos
teu sangue no tinteiro
e após confeccionada a moldura
fazer de tua pele minha tela com tua indescritível textura

Comer-te no Verão

No outono devorar-te

Aninhar-te no inverno

Ao regressar da primavera
matar-te ao matar-me de gozo e tesão


E daí por diante durante o ano inteiro
matar a minha fome
alimentando-me de teu gozo e teu cheiro

Fábio Che

O polvo

Ai... um polvo!
Tentáculos na sala de estar.
Nada mais incômodo que
tentáculos pegajosos.
Este pedaço de vida
que voa pela janela
não é aquele onde eu dizia:
“Eu já resolvi isto”?
Jurei ser diferente.
Papai casou com mamãe,
perante a Igreja e a Lei.
Juraram ser felizes:
mentiram!
Nem Deus, nem os juizes
parecem se preocupar.
Eu não...
Reneguei altares,
cuspi nos papéis amarelados
dos livros de registros civil.
Comigo não...
Apaixonei-me
por olhos meigos,
por uma boca pequena
que guardava palavras doces
e beijos serenos.
Dormimos juntos
moramos juntos
juntos vivemos
comemos
saímos
amamos.
O dia
o café
o almoço
a escova de dentes
os hábitos
o hálito
os sábados
os mitos
os fatos
os filhos.
O ato falho
as falas
as facas
as falas feito facas
as feridas
Meus filhos me olham
como a dizer:
“Papai casou-se com mamãe.
nada jurou a ninguém,
nem a Deus, nem a Lei.
Não registrou seu casamento burguês
por isso pensa que sua infelicidade
é diferente”.
Tem um polvo na sala de estar!
Nada mais grudento que um polvo.
Seus tentáculos enormes e infinitos
crescem a cada dia.
Logo eu que detesto polvos.
Como, por diabos, apareceu este por aqui?
Como teria crescido tanto?
Isto eu penso
enquanto, calmamente,
alimento o polvo
como faço todos os dias.

Mauro Iasi

quinta-feira, 28 de junho de 2007

O universo não é uma idéia minha...

O universo não é uma idéia minha.
A minha idéia de universo é que é uma idéia minha.

A noite não anoitece por meus olhos,

A minha idéia de noite é que por meus olhos anoitece.

Fora de eu pensar e haver quaisquer pensamentos

A noite anoitece concretamente

E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso


01/10/1917


Alberto Caieiro


Ficções do Interlúdio

Brejo


I

Neste lúbrico pôr-de-sol

Imagino que leva-me a um brejo

Brejo de breus...

Brejo de blues...

A utopia desta amante

Tu és quem pulveriza minha carne triturada or teu estro

Neste brejo brejeiro

Entre estas matérias fecais,sinto-me mirabolante

Entre os duendes que escarram nos breus

II

Eu, melena neste rio do brejo

Serena nesta noite nua

O amarei até que chores

Resplandecendo no castelo de meu colo

III

Puritanos concupiscentes

Esfarrapados entre orgias

Deixam-nos ervas e cogumelos

SUSANA SAVEDRA

Clube inexistente


Nunca reparei o que há de clube neste clube belo

Encontra-se vazio, inexistente

Hoje sim, vejo-me aqui presente

Quão lindo mesmo neste bairro imundo

A locadora com suas publicidades...

Instigam-me estes cartazes

Os bebedouros escarrados, vomitados

Por quem a piscina do mijo

Abandonaste

Estes pequeninos ladrilhos amarelos encurralados
em traves feitas para sustentarem meu amor

Quadras de tênis que darão um belo cenário
para você que deseja me foder na chuva

Quadras que desconhecem o porquê de suas existências

Utilizada pela demência

Demência humana macabra

Vestiário do atleta drogado

Parque infantil para o meu namorado

Sauna fria por ele esquentada

Suzana Saavedra

terça-feira, 26 de junho de 2007

De Vera


Quando eu amava Vera
tudo era intenso
As verdades pareciam cinceras
As alegrias duravam eras
Assim
como uma era perdurou

o vazio
quando
Vera acabou...

Fábio Che

Conversa no jardim (parte X de "Duelo")

Bom ouvir outros cantos,

sentir novos cheiros
e ver novas cores
nessa conversa ao jardim.
Bom saber que amores
entre beija-flores e flores
não chegam, por mais que acabem,
nem perto do fim.
Bom que seja assim...

Agora
olhando mais uma vez o jardim
vejo um beija-flor beijando
e sendo beijado suavemente por um jasmin...
Um beija-flor ou uma beija-flor?
Um ou uma jasmin?
Fiquei perguntando... olhando pra eles
ou elas...? perguntando por mim.

Beijo gostoso, daqueles que deslizam
queimando, que fazem sua primavera
e deixam o jardim inteiro na espera
de quem olha o amor suspirando.

É... se é verdade que cada coisa tem seu lugar
como é bom ver que em cada lugar cabe tanta coisa.

Nessa vida de beija-flor
deixei o amor me fazer voar o mais alto
que minhas asas não podiam.
Não deixei, mas ele assim mesmo,
me derrubou o mais fundo
aonde minhas penas, uma a uma,
mergulhavam e tremiam.
Vôo cheio de flores
de já sabido, infinitos sabores.
Vôo com seus espinhos e suas dores.

E de tanto voar
não posso esconder, muito menos negar:
Hoje sou um beija-flor muito flor
que voa no azul do céu
e que tem raízes, ao mesmo tempo,
cavando a terra para fazer o mel.
Hoje sou um beija-flor que faz amor
como beija e como flor
com aquilo que voou e aprendeu a gostar.
Hoje não preciso colocar meu bico em riste
pois meu alpiste é o amor amar.

E sendo assim, se uma rosa não goza
ao me beijar, eu mesmo gozando deixo
outro tanto de gozar, pois sou um tanto quanto
rosa, que recatada ou toda prosa, gosta muito
de se espalhar.

Uma coisa é uma coisa
E outra coisa pode ser outra e ou a mesma também.
Isso porque nos fazemos em bicos e em pétalas
de outros e outras alguéns.
Ao nos distanciarmos, não somos mais realmente iguais
Flores bicadas, de penas aladas, de raízes avoadas
ficam na terra.
Beija-flores florais, de espinhos mortais com cheiros
de serras cruzam o vento.
Alegria e tormento de nos fazermos em relações,
beija-flores com seiva bruta e elaborada
e flores com corações.

Então, meu amado e amante irmão alado
não posso falar de beija-flores e de flores separados assim.
Pois essa relação não começa e nem termina no beijo,
essa relação bem ou mal vivida decreta a essa dicotomia um fim.
Beija-flor é também flor
e a flor olha e diz: eu também sou um tanto assim.


Rafa Alencar

MALDIÇÕES INÚTEIS DE UMA FLOR (parte IX de "duelo")



venhas meu beija-flor
tão fomento de desejo
todo azul todo rosado
com teu beijo de vespeiro

vens para meu pólen
tão suado tão sereno
carente de abandono
submisso a teu peso

seu destino já traçado
é o de trair com beijo
ser ladrão dessa história
voar por rua e beco

sua moeda é o nada
que tu pagas de manhã
teu castigo é o deserto
sob os olhos da razão

meu destino é ser símbolo
de amor paz e teimosia
é ser flor que verteu sangue
para quem não merecia

meu destino é te esperar
de tarde de noite e de dia
o seu! é esquecer-me
como coisa sem valia


tu partes e leva o pólen
que é meu coração
mas retornas fome e frio
a minha nobre redenção

tua praga beija-flor
é ser parasita e hospedeiro
transportar a tuas asas
o médico e o coveiro

saibas que no jardim do céu
eu transbordada de alegria
lanço raio e tempestade
a cada passo de seu dia


Edson

segunda-feira, 25 de junho de 2007

8 de Março


1857...

Cento e trinta em
8...
Eram Rosas-Vermelhas


Ardendo em Março
Em claras-Chamas

Fogo na alma almas
Que mundo entranham

Transcendentes
Trazem no peito esfacelado
Cravada flama
de chama-viva e ardente
Alexandras
Marias

Kiandas

Vivamente furiosas
Ardentes e intensas
Sagradas e profanas
Quando odeiam e quando amam
Tudo fazem com gana
Furia que brota de dentro
E que antes de brotar
Feito feto, ferve entranhada em seu ventre
Determinação desenfreada

Aos olhos vãos, insana

A mais perigosa das feras
É aquela que gera
Mulher operária
para sempre resistente
Ó burgues não te engana

Fábio Che



Dom


Entre um sussurro e um gemido entre uma dor e um delírio segue Dom hora Quixote hora Casmurro

hora Juan
o dom de Dom
é o de viver e deixar-se
envolver bebendo toda a vida
num único gole
e o dom é a dor
ébrio entrega-se
sóbrio contorce-se
e viver em solidão
ainda que goste de ilusão
Dom refugia-se em muitos braços
em muitos abraços encantadores e vãos
tentáculos saborosos e vazios...
os muitos braços da solidão
Dom sabe disso mais sabe em vão,
assim como sendo um astuto sujeito
sabe também que,
O amor é coisa sem jeito dessas
que não tem haver com vontade
é o melhor entre os defeitos
é a pior das qualidades...

Fábio Che

Quixotesco

Razão só é razão se loucura
Se desprendida for dos dogmas, doutrinas e limites
De tão torpe sociabilidade

Loucura é o que se comete em vão
Então loucura se torna razão
Quando amada é uma donzela
A guardiã de suas conquistas

De nada adianta os poemas se não tem a quem os dedicar
Aliás estes só assim o são, se teen essa intensionalidade
Uma fonte de inspiração que os incita e os da vida, os da razão

Assim como nenhum sentido faz derrotar gigantes
Se não tem para quem, como servo os enviar

Derrotar moinhos e caminhar sozinho...

Quando se é loucamente lúcido
A vagar como andante cavaleiro mambembe
Todas as meretrizes são nobres donzelas
( sabe-se em verdade que são as mais puras, nobres e singelas)

Tem de se ter no peito uma amada

Aquela que sempre o espera na próxima alvorada
E em porte suas armas
Já se pode um nobre cavaleiro andante
Partir rumo ao horizonte
Embebido em loucura lancinante
Em sua busca por aventuras
E anseio pelo destinado encontro de sua amante

Quem não vive este mundo
Pode enfrentar vencer gigantes
Leões, guerreiro ou porque não moinhos-de-vento
Só não pode vencer o sentimento
Que aprisiona e transcende o próprio tempo

Cavaleiro andante
Nobre?
Louco?
Um infante!!!

Em briosa montaria segue buscando-a por noites e dias
Dormindo por estalagens
Ou entre os vagabundos
Ensandecida busca...
Paciente espera
Em sua loucura singela

Pela longa madrugada
Aprisionado em triste figura

Segue-se entre tamanhas desventuras
A sua longa jornada
Seu maior sonho

O desejo mais delirante
Sua maior loucura
A busca de sua alma em posse de sua amante...

Ah, Dúlcineia senhora do loucos errantes

Que talvez justamente por não existirdes

sois tão fascinante

Saúdo á Dom e sua ensandecida jornada
Em comum temos a loucura
A cina-de-alma-roubada

E a estrada dos errantes vagabundos a ser trilhada
Quixotesqueanamente Fábio Che

... sem titulo ...


Quanto a ti que venhas breve
teu cheiro antecipa-se na brisa
que venhas leve
e que teu beijo de doce ardência,
mel e saliva
minhas inquietações dissipem
e a vida que torne-se breve
e que a ausência de tuas roupas
libere o calor de teu corpo
para que me esquente, ou melhor me incinere...
e que minha voz também ausente se faça
dando espaço ao som dos corpos
a sôfrega respiração e aos gemidos
agudos e espaçados de tesão...
que venhas breve em vôo solo anseio-te
transpirando por cada poro
que venhas breve que trepe forte
e beijes leve...
e quanto a ti que partas breve
deixando para mim apenas
as lembranças e a sorte
para que mais uma vez desnorteado
eu tome um norte
parta antes que a paixão o faça
no auge do tesão, com toda a maestria
e toda graça

parta antes que a paixão o faça

e não permita ao sentimento cair em desgraça

e da nossa paixão não dê o ultimo trago

o horrível gosto do filtro assim comoa sensação de algo acabado

todos sabem, causam tamanho estrago

parta antes que a paixão o faça

deixando e levando, a ilusória sensação

de que nada na vida teve mais poesia

teve mais graça...e quanto a ti

que venhas breve e leve chegue,

assim que a paixão presente se faça

mas saiba sempre a hora certa de partir

parta antes que a paixão o faça...

Quanto a mim sigo, navegando (navegando) pela vida...

buscando um porto onde atracar...

Porém tendo por pre-suposto

a ifeliz sensação de não ter onde chegar

de que uma vez aportado

novamente terei anseios de partir,

cortar oceanos, ver o novo gosto, o novo mar!!!

Fábio Che

Conto Anti-biográfico


Era madrugada, e não era fria,
em verdade uma dessas
em que o sangue ferve,
misturado à conhaque e cerveja gelada,
típica madrugada de noite de balada

Chego no bar, e seu olhar, entre tantos
é o primeiro que vejo...

Ali, numa mesa no canto
sua coxa desnuda pelo racho do vestido,
a carnuda boca vermelha, e seu lindo rosto
estampado de sorriso
quase escondido pelos cabelos longos
e esvoaçados através dos quais
pode-se entrever o seu olhar de tesão
(olhar indecente que lascivo denuncia paixão latente)

Fujo dela e de mim mesmo
papeio, danço, converso e brinco...
juro não me aproximar,
mas ela sempre atraia o meu olhar
queria não olhar para ela,
mas meu olhar me traia...
sempre que percebia ele já estava lá,
em suas curvas, peitos, coxa, bunda, boca, nuca...
reluto
Meu olhar ainda uma vez me trai
e parecia que seu corpo todo dizia:-VEM CÁ
Era uma dessas noites vazias,
e minutos depois me aproximo,
exatamente como havia jurado que jamais (novamente) o faria...
e mais uma vez pra casa-do-caralho vão as minhas certezas
coerência e firmeza
Algumas dúzias de palavras,
mais frias que as cervejas geladas em nossa mesa pousadas
(que ela no seu orgulho de fêmea moderna fez questão de pagar)
e meia hora depois um quarto barato
sem nada excepcional,
sem nenhuma beleza
dos motéis no caminho era sempre o primeiro
Novamente a prova nosso tesão e destreza
Sua fina lingerie, rasgada com força virara trapos
Chamas e delírio a nos envolver por inteiro
eu lhe chamava por puta
lhe puxava os cabelos
lhe dava na cara
e sem frete lhe fodia
segurando firme as ancas
e enfiando-lhe a vara
ela urrava o mais alto que podia e dizia
–NÃO PARA
Olhava-me desafiante e dizia: SOCA INCESSANTE,
FODE ESSA VADIA...

E em espasmos sorridentes olhou para mim,
mais uma vez havia gozado a safada,
eu, por meu turno, não me fiz de rogado
e aquela noite gozei meu bocado

Não sei se era amor aquelas trepadas de euforia
era louco, caudaloso, coisa insana, doentia

Aquilo já era vício e decerto já a muito estávamos viciados
superados os medíocres conceitos cristãos
já não me sentia culpado
entretanto até hoje me acomete uma dúvida,
era ela a puta ou era eu o tarado???

Fábio FSM

E quando a flor beija o beija-flor? ( VIII )

E quando a flor beija o beija-flor?
Mal sabe o beija-flor que ao mergulhar na saliva da flor,
embebeda-se do seu pólem...
e tal como o vento, sendo ele brisa, ventania ou vendaval,
ao provar-se em outra flor,
leva consigo parte da que ficou...

Outras flores nascem...
Misturando-se ao cheiro do vento...
E com a destreza de suas cores diversas,
fortes e rubras...
encanta as asas que se fazem beija-flor... Gérberas,
açucenas,
e acácias.

Magnólias, lírios,
rosas, e jasmim...

Orquídeas, bromélias e margaridas...
com diferentes formas de beijar...
com diferentes formas de amar...

Dálias,
begônias,
e damas da noite...
que ao seu momento mais envolvente,
não tem a presença das asas (que deitadas na escuridão descansam)
para compartilhar seu gosto, seu aroma...

Colibri, que desafia os ares,
e a lei da gravidade...!!!
Mal sabe que o amor livre
não se equivale somente ao ato de voar...
e que ter raízes não se equivale a amor aprisionado...

Assim como há raízes aéreas...
Há também vôos sem a altura da vida intensamente vivida...

Livres amores são permeados de vôo e de raiz...
De ir e vir...
De exílios, queimadas, e poemas outros.
De balanços, de olhares e de beijos...
de ser beija-flor beijando flor,
e de ser flor beijando beija-flor
Flor de cactos:
Flor que beija-flor não beija...,
mas que toca o vento, sem ferir ou arrepiar...

E, no envolvente calor do beijar,
do amar - seja livre, ou seja aéreo...
nem beija-flor
nem flor
são os mesmos ao
se distanciarem...



beijos de rubra flor...
Andrea

BEIJA FLOR DESPETALADO ( VII )



Ao se despetalar o beija-flor
voraz verborragia
nada esconde tua sanha
tu não beijas, saqueia

Mas qual beijo a flor prefere
o de sempre ou o de saque?
se o presente tão comum
torna-se areia com a idade
e o de saque tão moleque
roda a vida sem piedade
e dá passado e presente
e um futuro de saudade

A que nasce uma flor de ouro?
senão para ser saqueada
é capricho da natureza
ter prazer na armadilha
ou na cilada

o beija-flor goza da vida
bebe do divino amor romântico
mas voas sobre amor mais feliz
mais terreno, mais humano

cada coisa tem seu lugar
o pássaro a flor o campo
as pedras os vermezinhos
a felicidade e o engano

as flores cabe balançar no vento
pra cá e pra lá
e aos beija-flores por perto?
pobre de nós...
nos deixar hipnotizar

A flores e o beija-flores
interdependentes ao infinito
amando-se com prazer
ternura ou com martírio


Edson Neves

Beija, sobre flor então ( VI )



Caro irmão-alado, continuo para o debate

com o bico em riste

pois beija flor não é qualquer pássaro,

quem aprecia o mais doce-mel,

não se contenta com alpiste

Porém quero alerta-lo para um outro ponto,

sem sair do mesmo assunto...

portanto para apreciar nossa arrogância

convido-te para que venhas junto

Parece que em nossa prosa,

para o bem ou para o mal

é só beija-flor quem goza

Pergunto-te meu caro-e-alado-irmão

nessa "inter-relação", onde é que entra a rosa???

Essa sim em nossa prosa até aqui foi vitimada

(oh, pobre coitada!!!)

Essa que com o seu jeito, recatada,

permanece quase sempre parada

(a não ser quando do efeito do vento)

sedutoramente imobilizada

ou ainda de movimentos quase que

imperceptíveis de tão leves e lento

de beleza arraigada

a lançar seu perfume pelo ar

(pra variar displicente e des'intencionada)

E estas criaturas tão belas, que seu cheiro

espalham no ar através das eras

e que na ardência de seu intimo desabrocham

e abrem suas úmidas pétalas

de forma primaveril, ansiosa a esperar

que o "vil" beija-flor venha com seu bico

sugar-lhe o doce-mel para que possa finalmente gozar...

Fábio Che

Flor pro beija-flor ( V )




Bom ver que agora não só não negas seu amor, como o jura eterno. Bom ver que a necessidade do desejo não te fez esquecer de amar seu beijo e continuar seu vôo tão belo. Bom ver irmão beija-flor que também não admite se fantasiar de pecador ou de coitado, vítima do pecado. E ver que carrega suas asas com todo mel que possas carregar, sem que precise para tanto, por no seu bico uma gota se quer de enganar. Eu, do meu lado, se dei essa impressão me desculpo, pois não nego e não negarei minha condição de beija-flor. Sei o quanto de amor colhi de cada vôo que vivi e que enfeitaram minhas asas com cores e desabores de tanta flor beijar. Sei do medo da gaiola e da falta dela Assim como, do medo, de tão alto voar.

E como crucificar ou santificar quem se entrega ao amor?
Só achei que você confundia o que sentia
e se esforçava pra se enfeitar com a dor.
Sem precisão, pois quem ama ou amou
sabe do gosto amargo desse sabor.

E também achei que esquecia que na maioria das relações
entre beijas e flores existem sabores enganadores
dos muitos que há muito tempo
já não sabem como beijar ou serem beijado
sem deixarem de lado a ilusão de se mascarar.

Mas, vejo que não temos pendengas,
só ruídos capengas que já clareiam em nossa prosa poesia
de beija-flores que amam flores de noite
assim como voam para beija-las de dia.

Talvez, o que queria eu te dizer irmãozinho voador
é que sem deixar
e por sermos o que somos
não podemos nos esquecer
que também somos e seremos flor.

E assim sendo, o beija-flor
tanto beija a flor e colhe seu mel
quanto é beijado e colhido por ela.
Tanto ele voa no céu como se espalha pela terra.
Tudo que fazemos não fazemos sozinhos
Fazemos em relações aonde construímos
e aonde constroem em nossas asas
pequenos e cuidadosos ninhos.
Por isso a necessidade de ressaltar o carinho
nessa espiralada peregrinação prazerosa
pois voamos por um mundo diferente
aonde possamos todos, cada um com sua cor
sermos o passarinho que pudermos ser
sem esquecer de sermos também linda flor.

Rafa Alencar

Enquanto do vôo se refaz... ( IV )






Enquanto do vôo se refaz...
diz o beija-flor,
Bicho coitado não sou,
ó caro rapaz, e tu também és beija-flor,
pois em meu ofício o que faço que tu não faz?

Se colho sem plantar, é porque sou do ócio
prefiro o ofício do trabalho-prazeroso (e nele mostrar de que sou capaz)
e cá pra nós moço, bem fazes em não mal dizer
jamais mal-digas o que te realiza, o que te dá prazer
pois em verdade beija-flor somos nos dois eu e você

Beijo-flor, e hei de seguir a beijar
pois tanto pássaro como flor precisam se realizar
porque passar fome e no intimo sentir o gosto de fel
se há tanta flor cheia de mel por um beijo a esperar?
diga lá, por qual falsa moral fome passar???

No mais caro rapaz, beija-flores não são mocinhos
beija-flores não são vilões, sem maniqueísmo's
os beija-flores tem coração e coração de bicho alado
que é fácil de ser capturado... eu por meu turno
já passei maus bocados, uma vez "liberto" já não quis sair da gaiola

e outrora já temi morrer encarcerado

Então beija-flor amigo por isso não me castigo
por entre esse jardim e em cada flor que em
minha vida passar pode-se questionar as formas,
os modos e as medidas, mas amor não faltará

Por todo o tempo e não só por um dia ou um segundo
amo o que me faz sobreviver no mundo
e tudo o que faço, faço sem enganar.

Não venho aqui me defender amigo alado
pois ser beija-flor não faz de ninguém culpado
Venho apenas te dizer não negues
o bico e a asa, olhes no espelho
(de tua trajetória)
e irás ver que beija-flor também é você,
não me venha com estróias...

No mais o que se faz por amor e prazer
nem carece explicação, que justificativa pode ter?

Fantasia-lo de coitado realmente jamais, ele é seu próprio algoz,
seu próprio capataz, mas entretanto te digo alado irmão
negar que com ele guarda identidade e pinta-lo de vilão, isso se faz não!!!

Fábio Che

Não me engano beija-flor ( III )




Não se acanhe e nem se irrite
Amigo passarinho, bata as asas
Construa ninhos de um beija-flores.
Quem sou eu pra maldizer do seu prazer
Que sem plantar sabe colher com seu beijo
Em seus vôos, infinitos amores?

Beija que o beijo é pra se dar
Ainda mais molhado em desejo
Beija com sua fome que sem nome
Come toda flor num simples beijo.
Mas por favor, bote um pouco de amor
Nessa fome de beijar.
Nem que seja por um dia ou um segundo
Ame o que te faz sobreviver no mundo
E se possível, faça isso sem enganar.

Não precisa se defender alado amigo
E nem justificar o que fez e faz
Ser beija-flor nunca deve ser proibido
Mas fantasia-lo de coitado, por favor jamais!

Rafa Alencar

Beija-flor manda recado... ( II )



A quem diga que o beija-flor é um sacana
que toda flor-beija, que toda flor-engana
mas é preciso ser beija-flor
para compreender,
beija-flor é preciso ser
e só assim pode-se entender
que em certos casos beija-se para sobreviver
não pelo prazer que tal gesto fustiga
mas para nutris-se de vida
Não é de amor o seu beijo
mas sim de desejo,
o beijo com o qual se come
com o qual se beija,
aquela flor da qual se tem fome
Por isso festejado seja
o beijo
a flor
e aquele que beija
assim como o mel...
festejado seja a vida com suas fomes-e-desejos
com seus gozos-e-beijos

Fábio Che

Danado beija-flor ( I )



Hoje resolvi seguir um beija-flor
Em seu vôo incerto
Pulava de flor em flor
De peito aberto a colher sabores.

Danado esse passarinho
A cada flor, muitos beijos
O mesmo carinho
Partilhado em seu vôo
Em flores e suas cores,
Com ou sem espinho.

Beija por necessidade
O danado do beija-flor
E engana como o que
Quem se engana e sonha
Que seu beijo é de amor.

Rafa Alencar